
Em 2020 foram detidos 274 jornalistas em todo o mundo devido ao exercício da profissão, denunciou o Comité para a Protecção dos Jornalistas (CPJ) no relatório anual sobre perseguição aos profissionais da comunicação social. China, Turquia, Egipto e Arábia Saudita foram os piores países para ser jornalista este ano.
O CPJ avança que este número-recorde de jornalistas detidos surge especialmente devido à cobertura noticiosa de distúrbios civis e da pandemia da Covid-19.
“É chocante e assustador ver uma número-recorde de jornalistas detidos durante uma pandemia global”, lamenta o director-executivo do CPJ, Joel Simon, citado no documento divulgado pelo próprio Comité.
“Esta vaga de repressão é uma forma de censura que está prejudicar o fluxo noticioso e a alimentar a ‘infodemia’. Com a covid-19 a assolar as prisões de todo o mundo, também está a pôr a vida de jornalistas em risco.”
Pelo menos 274 jornalistas estavam presos a 1 de Dezembro, o maior número desde que o CPJ começou a recolher dados no início da década de 90 e o quinto ano consecutivo com pelo menos 250 jornalistas detidos no exercício da profissão.
A China com 47 detidos, a maioria na província de Xinjiang, a Turquia com 37, o Egito com 27 e a Arábia Saudita, com 24, destacam-se como os Estados que mais jornalistas prendem.
Nos Estados Unidos, não havia nenhum jornalista preso pelo seu trabalho no dia 1 de dezembro, mas o relatório destaca que ao longo do ano foram presos ou processados criminalmente até 110 profissionais, um número inédito, e pelo menos 300 foram agredidos, principalmente pelas forças de segurança durante a cobertura das manifestações.
A retórica dura do presidente Donald Trump ao longo do seu mandato, incluindo a denominação de reportagens críticas de “notícias falsas”, deu cobertura a líderes autoritários para reprimir jornalistas nos seus próprios países.
Globalmente, 34 jornalistas foram presos por “notícias falsas”, em comparação com os 31 no ano passado. O CPJ publicou recentemente recomendações para que o próximo governo de Joe Biden restaure a liderança dos Estados Unidos em liberdade de imprensa, incluindo a prioridade da questão na sua política externa e a nomeação de um Enviado Presidencial Especial para a Liberdade de Imprensa.
“O número-recorde de jornalistas presos em todo o mundo é o legado em liberdade de imprensa do Presidente Trump”, disse ainda Joel Simon, acrescentando que “o próximo governo Biden deve trabalhar como parte de uma coligação global para reduzir este número”.