Editorial

A inveja é uma merda!

“Olha lá Laureano, a inveja é uma grande merda”, disse-me há dias um amigo e funcionário público que parecia muito aborrecido com certas atitudes e posturas de colegas que para ele apenas se podem resumir a uma única coisa: a inveja!

Luiz de Camões termina Os Lusíadas com a palavra “inveja” para revelar um sentimento muito comum na sociedade em que vivia. Hoje há muitas pessoas que fazem da última palavra do célebre livro de Camões, a primeira palavra das suas vidas e uma forma de estar na vida. A sensação de alegria pela dor e pelo fracasso alheio passa a ser um objectivo e fixação. A inveja é um estranho sentimento de “ressentimentos” em relação aos outros pelo aparente sucesso ou felicidade que vivem ou exibem.

A inveja é a principal causa da nossa própria nulidade, onde o valor e o mérito allheio causam uma grande tortura. O problema dos invejosos é que não suportam a ideia de não estarem ao nível dos que admiram, e em vez de tentarem auto-elevar-se, os invejosos tudo fazem para puxar para baixo. Na verdade, eles lidam mal com o sucesso alheio ao invés de tentarem superar as suas fraquezas. A inveja é uma manifestação do medo que temos de falhar e de que o outro se dê bem.

Neste constante medo de falhar, ou de ver exposta a sua falta de competência, o invejoso só se alivia quando aniquila aquele que ele considera como ameaça. Na maior parte dos casos não passam de perigos imaginários, pois os invejosos desenvolvem uma certa fobia aos que acreditam serem mais felizes ou profissionalmente mais bem-sucedidos do que eles.

Criar a ideia de que fulano tem sorte, sicrano é assalariado do empresário tal, beltrano é testa-de-ferro do político X serve para diminuir as capacidades, competências e mérito alheio, e assim justificar uma evidente incapacidade. Os invejosos deviam disfarçar melhor o seu sentimento de inferioridade e a sua incapacidade e deixar de tentar puxar para baixo algo ou alguém que reconhece ser bem superior.

Entre nós a inveja está a assumir proporções extremas e acho que a crise só está a fazer aumentar ainda mais este sentimento. Os invejosos são solidários e amparam-se uns aos outros através da vitimização e na criação de rótulos para os seus alvos. A inveja resulta muitas vezes do facto de o valor e as capacidades alheias exporem a nossa incapacidade. Estamos a tornar-nos uma sociedade de invejosos e era importante começar a pensar-se numa estratégia de combate à inveja. Foi a inveja que dominou e influenciou negativamente a sociedade do tempo de Camões e que foi o seu último “desabafo” escrito e que inferma as sociedades actuais. Para quem já foi vítima e sentiu na pele os efeitos deste tipo de sentimento, vai acabar por concordar com aquele meu amigo e funcionário público quando diz que: “A inveja é uma merda!” E que eu acrescento: uma grande merda!

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