Adolfo MariaCronistas

A Nação, o seu estado, as interrogações

Há dias assisti a uma interessante conferência no ISCTE, em videoconferência com Luanda onde estavam Abreu Paxe, Ana Margoso e Laura Macedo. Em Lisboa faziam parte do painel de oradores Cláudia Almeida, Manuel dos Santos, Sedrick de Carvalho, Karina Carvalho e Zeferino Boal. A moderação foi de Ana Lúcia Sá e Eugénio de Almeida. O título era QUO VADIS ANGOLA? e os temas : debate sobre as eleições de 2017;o pós-eleitoral. Num ambiente sereno – onde houve posições vulgarmente classificadas de «bajus» e outras de acentuado pessimismo – é de relevar as informações que foram carreadas, as análises feitas e as perspectivas que foram equacionadas, de modo empenhado, nas diversas intervenções, algumas delas brilhantes.

 

Depois da conferência fiquei a pensar no que ali se disse e nos problemas que Angola tem pela frente neste crucial momento. Essa reflexão serviu para alinhar deste modo o meu pensamento.

 

  1. há duas realidades incontornáveis:
  • Angola está há 42 anos sob o domínio do MPLA que tem a concepção de ser um partido-estado e está imbuído de uma cultura e prática de exclusão
  • o país está numa situação económica, social e política que exige mudanças

urgentes na forma e exercício do poder político, no seu relacionamento com os cidadãos, nas opções governativas

 

  1. a compreensão destas realidades é ponto de partida para a escolha das adequadas estratégias políticas
  • a nova chefia do país parece ter compreendido que se impõe uma mudança profunda no modo de exercer o poder e nas opções e práticas governativas
  • são exemplo o discurso do estado da Nação e outras posições públicas, onde assume compromissos de um relacionamento estreito com a sociedade civil e de combate às opções e práticas nocivas que têm caracterizado o exercício do poder
  • os partidos da oposição tardam a encontrar as estratégias adequadas a este momento político
  • a sociedade civil divide-se entre o acreditar nas proclamações do poder político e uma eufórica esperança na mudança

 

  1. para a necessária mudança, na minha opinião, o que é preciso?
  • o MPLA deve abandonar as suas concepções de monopólio da vida política, económica, social e cultural de Angola
  • a separação dos três poderes do Estado tem de ser efectiva, através da revisão da actual Constituição que coarta e desvirtua as funções do poder executivo, legislativo e judicial
  • o aparelho do estado tem de ser despartidarizado, servido por cidadãos independentemente da sua filiação partidária ou outra
  • a implantação do poder local, as autarquias, é urgente como elemento fundamental da democratização do País

 

  1. questões que andam na minha mente e também de muita gente
  • que expectativas e possibilidades foram criadas pelo discurso de João Lourenço sobre o estado da Nação?
  • que probabilidades há de o MPLA se modificar e ser motor da democratização profunda do País?
  • como podem os partidos da oposição contribuir para as necessárias mudanças políticas e outras no País?
  • que meios e projectos os vários sectores da sociedade civil dispõem ou podem dispor para a afirmação dos seus interesses e para o êxito do combate por uma plena cidadania em Angola e o escrutinar do funcionamento normal de um estado de direito?

 

Fico-me por aqui, quanto a enunciados. Mas quero ainda dizer que, neste momento, penso haver condições para debate, projectos e acções no sentido de se conseguir mudanças fundamentais em Angola que conduzam o país para uma via de progresso, de maior justiça social e vida plenamente democrática. Saibam os cidadãos agir com patriotismo.

Deixe o seu comentário

Este site utiliza o Akismet para reduzir spam. Fica a saber como são processados os dados dos comentários.

Botão Voltar ao Topo

Discover more from Vivências Press News

Subscribe now to keep reading and get access to the full archive.

Continue reading