Editorial

A TPA vai nua

“Sr. Presidente é um milagre ter a TPA a emitir 24 horas por dia, ao nível nacional e internacional e em três canais (…) a maior televisão do país é também a mais atrasada do ponto de vista técnico e tecnológico. Sr. Presidente corremos o risco de um dia acordar e não termos o sinal da TPA.” Estas e outras explicações foram dadas de forma objectiva, clara e directa pelo presidente do conselho de administração da Televisão Pública de Angola, Francisco Mendes, ao Presidente da República João Lourenço em transmissão directa pela televisão pública durante um encontro no centro de produção de Camama.

Se a notícia da visita de João Lourenço ao centro de produção da TPA em Camama causou alguma surpresa, mais surpreendente foram as revelações de Francisco Mendes. Revelou o quadro “crítico e dramático” que vive a televisão pública, que a TPA em sinal aberto só chega a 30% da população e que os restantes 70% da emissão da TPA passam pela Zap, DSTV e TV Cabo, que são sistemas pay per view, ou seja: o cidadão que contribui com os seus impostos para ter e manter a televisão pública ainda tem de pagar novamente para ver uma televisão para a qual ele desconta chegar até si em sinal aberto. A dívida da TPA com a Segurança Social que ultrapassa os mil milhões de kwanzas (mais de 2 milhões de dólares) e há informação de que cerca de 140 trabalhadores estão “impedidos” de passar à reforma por causa desta dívida e que se essa situação fosse ultrapassada a TPA pouparia 56 milhões de kwanzas/mês em salários (cerca de 120 mil dólares). Tudo isso dito de forma directa, aberta e com propriedade deixa-nos bastante preocupados e com a certeza de que a TPA vai “despida” de investimentos, de atenção e da prioridade do Estado. A televisão de todos nós, a que diz que “somos todos nós”, a TPA vai nua.

Hoje a TPA não tem meios adequados, não tem o merecido apoio e o devido investimento do Estado. Temos uma televisão pública atrasada no tempo e no espaço. Uma televisão que em nada beneficiou com as alienações que se fizeram ao Canal 2 e com as consultorias chorudas e que tem um canal internacional praticamente obsoleto e desprovido de conteúdos próprios. Conheço o Francisco Mendes desde os tempos em que foi director de informação e depois PCA da TV Zimbo (onde trabalhei no período 2009-2016), é um profissional “atrevido” e ousado, tem convicções próprias, não abdica da sua liberdade de consciência e de expressão, é um profissional abnegado e criativo, tem espírito de missão e sabia que tendo a oportunidade de estar tête-à-tête com João Lourenço não iria desperdiçar a oportunidade de apresentar as dificuldades que já lhe terá tentado fazer chegar por interpostas pessoas.

Foi um discurso transversal feito para atingir os dois públicos: o de dentro e o de fora. O de dentro, da TPA, era importante os trabalhadores ouvirem em directo, ao “vivo e a cores” e perante o Presidente da República e seus auxiliares, um PCA que falasse verdadeiramente em seu nome e de forma em que eles se revissem. Cansados de gestores que branqueavam as contas, que ocultavam a realidade e floreavam os cenários, desta vez os trabalhadores vibraram porque sentiram que tinham no PCA alguém que conhece e vive a sua realidade, alguém com quem podem contar na defesa dos seus interesses e que mesmo perante o Presidente da República não se inibiu e falou com verdade, verticalidade e coerência, que mesmo estando numa sala perante pessoas que tiveram uma quota parte de responsabilidade na situação crítica e dramática que a TPA vive, Francisco Mendes não se acobardou e revelou tudo. Falou para fora, porque sentiu a necessidade (e sabendo que o encontro estava a ser emitido em directo) de falar para os telespectadores e para o público de como a televisão de todos nós, a televisão do slogan “somos todos nós”, andava nua, suja e muito mal tratada por quem tinha a missão de cuidar dela.

As disparidades salariais, funcionários com a mesma categoria, mesmo tempo de trabalho, mas com salários totalmente diferentes. Assumir que do ponto de vista técnico e tecnológico, a TPA está “atrasada” uma década em relação aos seus principais concorrentes, a Zimbo e a Zap, que há anos não investe em meios técnicos e na formação dos seus quadros. Se se sabe que o Estado sempre disponibilizou avultadas somas para se investir na TPA, como foi possível chegar a tal ponto? Quando podiam tanto e fizeram tão pouco? Quais foram as administrações que lesaram e prejudicaram a TPA, qual foi a governação do Ministério da Comunicação Social que não aplicou as verbas alocadas? Perante tais revelações impõem-se certas responsabilizações.

“Se as feridas do teu próximo não te causam dor, a tua doença é pior que a dele”, diz a sabedoria popular. E no fim Francisco Mendes soube despir o fato de PCA da TPA para assumir a condição de jornalista e nela revelar a triste situação/condição de um chamado “quarto poder” que na realidade não passa de “1/4 do poder”. O discurso final e que foi literalmente censurado (a transmissão foi cortada nesse momento) revela a dimensão humana do jornalista e que naquele momento alerta o Presidente João Lourenço para o papel e a importância do jornalismo e dos jornalistas, ao mesmo tempo alerta o Estado para o cumprimento das suas responsabilidades, para o respeito e a valorização da classe. Disse aquilo que todo o jornalista queria ouvir e também aquilo que João Lourenço e os seus auxiliares precisavam de ouvir e de saber. “Sempre que o Estado nos convocou, Sr. Presidente, nós dissemos sim, sem impor condições. Sempre que nos convocaram para os grandes desígnios nacionais nós tivemos lá para cumprir as nossas responsabilidades, mas paradoxalmente quando se atingem os objectivos nós assistimos à festa da parte de fora, não somos convidados para a festa…” Exigir ao Chefe do Estado respeito e dignidade pelo trabalho dos jornalistas na parte final do discurso foi realmente uma postura nobre e coerente de um profissional da dimensão do Francisco Mendes. Grandes momentos fazem grandes homens. E se ele ganhou o respeito e a admiração dos trabalhadores da TPA e do público, também vai ganhar o ódio e hostilização de certos grupos de interesses e que há anos andam a “mamar” do erário público.

Se João Lourenço e Nuno Carnaval pretendem realmente dar uma televisão de qualidade a Angola e aos angolanos devem aproveitar o empenho, engenho, a disponibilidade, profissionalismo e a visão de Francisco Mendes. Que esta TPA que hoje anda nua e despida de dignidade possa voltar a estar coberta de honra e dignidade. Que fique bem explícito que a TPA não é de grupos, não é de uns e de outros. A TPA somos todos nós!

Se a notícia da visita de João Lourenço ao centro de produção da TPA em Camama causou alguma surpresa, mais surpreendente foram as revelações de Francisco Mendes. Revelou o quadro “crítico e dramático” que vive a televisão pública, que a TPA em sinal aberto só chega a 30% da população e que os restantes 70% da emissão da TPA passam pela Zap, DSTV e TV Cabo, que são sistemas pay per view, ou seja: o cidadão que contribui com os seus impostos para ter e manter a televisão pública ainda tem de pagar novamente para ver uma televisão para a qual ele desconta chegar até si em sinal aberto. A dívida da TPA com a Segurança Social que ultrapassa os mil milhões de kwanzas (mais de 2 milhões de dólares) e há informação de que cerca de 140 trabalhadores estão “impedidos” de passar à reforma por causa desta dívida e que se essa situação fosse ultrapassada a TPA pouparia 56 milhões de kwanzas/mês em salários (cerca de 120 mil dólares). Tudo isso dito de forma directa, aberta e com propriedade deixa-nos bastante preocupados e com a certeza de que a TPA vai “despida” de investimentos, de atenção e da prioridade do Estado. A televisão de todos nós, a que diz que “somos todos nós”, a TPA vai nua.

Hoje a TPA não tem meios adequados, não tem o merecido apoio e o devido investimento do Estado. Temos uma televisão pública atrasada no tempo e no espaço. Uma televisão que em nada beneficiou com as alienações que se fizeram ao Canal 2 e com as consultorias chorudas e que tem um canal internacional praticamente obsoleto e desprovido de conteúdos próprios. Conheço o Francisco Mendes desde os tempos em que foi director de informação e depois PCA da TV Zimbo (onde trabalhei no período 2009-2016), é um profissional “atrevido” e ousado, tem convicções próprias, não abdica da sua liberdade de consciência e de expressão, é um profissional abnegado e criativo, tem espírito de missão e sabia que tendo a oportunidade de estar tête-à-tête com João Lourenço não iria desperdiçar a oportunidade de apresentar as dificuldades que já lhe terá tentado fazer chegar por interpostas pessoas.

Foi um discurso transversal feito para atingir os dois públicos: o de dentro e o de fora. O de dentro, da TPA, era importante os trabalhadores ouvirem em directo, ao “vivo e a cores” e perante o Presidente da República e seus auxiliares, um PCA que falasse verdadeiramente em seu nome e de forma em que eles se revissem. Cansados de gestores que branqueavam as contas, que ocultavam a realidade e floreavam os cenários, desta vez os trabalhadores vibraram porque sentiram que tinham no PCA alguém que conhece e vive a sua realidade, alguém com quem podem contar na defesa dos seus interesses e que mesmo perante o Presidente da República não se inibiu e falou com verdade, verticalidade e coerência, que mesmo estando numa sala perante pessoas que tiveram uma quota parte de responsabilidade na situação crítica e dramática que a TPA vive, Francisco Mendes não se acobardou e revelou tudo. Falou para fora, porque sentiu a necessidade (e sabendo que o encontro estava a ser emitido em directo) de falar para os telespectadores e para o público de como a televisão de todos nós, a televisão do slogan “somos todos nós”, andava nua, suja e muito mal tratada por quem tinha a missão de cuidar dela.

As disparidades salariais, funcionários com a mesma categoria, mesmo tempo de trabalho, mas com salários totalmente diferentes. Assumir que do ponto de vista técnico e tecnológico, a TPA está “atrasada” uma década em relação aos seus principais concorrentes, a Zimbo e a Zap, que há anos não investe em meios técnicos e na formação dos seus quadros. Se se sabe que o Estado sempre disponibilizou avultadas somas para se investir na TPA, como foi possível chegar a tal ponto? Quando podiam tanto e fizeram tão pouco? Quais foram as administrações que lesaram e prejudicaram a TPA, qual foi a governação do Ministério da Comunicação Social que não aplicou as verbas alocadas? Perante tais revelações impõem-se certas responsabilizações.

“Se as feridas do teu próximo não te causam dor, a tua doença é pior que a dele”, diz a sabedoria popular. E no fim Francisco Mendes soube despir o fato de PCA da TPA para assumir a condição de jornalista e nela revelar a triste situação/condição de um chamado “quarto poder” que na realidade não passa de “1/4 do poder”. O discurso final e que foi literalmente censurado (a transmissão foi cortada nesse momento) revela a dimensão humana do jornalista e que naquele momento alerta o Presidente João Lourenço para o papel e a importância do jornalismo e dos jornalistas, ao mesmo tempo alerta o Estado para o cumprimento das suas responsabilidades, para o respeito e a valorização da classe. Disse aquilo que todo o jornalista queria ouvir e também aquilo que João Lourenço e os seus auxiliares precisavam de ouvir e de saber. “Sempre que o Estado nos convocou, Sr. Presidente, nós dissemos sim, sem impor condições. Sempre que nos convocaram para os grandes desígnios nacionais nós tivemos lá para cumprir as nossas responsabilidades, mas paradoxalmente quando se atingem os objectivos nós assistimos à festa da parte de fora, não somos convidados para a festa…” Exigir ao Chefe do Estado respeito e dignidade pelo trabalho dos jornalistas na parte final do discurso foi realmente uma postura nobre e coerente de um profissional da dimensão do Francisco Mendes. Grandes momentos fazem grandes homens. E se ele ganhou o respeito e a admiração dos trabalhadores da TPA e do público, também vai ganhar o ódio e hostilização de certos grupos de interesses e que há anos andam a “mamar” do erário público.

Se João Lourenço e Nuno Carnaval pretendem realmente dar uma televisão de qualidade a Angola e aos angolanos devem aproveitar o empenho, engenho, a disponibilidade, profissionalismo e a visão de Francisco Mendes. Que esta TPA que hoje anda nua e despida de dignidade possa voltar a estar coberta de honra e dignidade. Que fique bem explícito que a TPA não é de grupos, não é de uns e de outros. A TPA somos todos nós!

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