CronistasMarina Cabral

A voz do Autismo 6

Ao longo do meu percurso profissional tenho enfrentado enormes desafios e frequentemente frustrações por nem sempre conseguir alcançar os objectivos pretendidos, mas a satisfação de qualquer conquista independentemente do seu tamanho faz com que me dedique com todo o afinco e satisfação.

Hoje gostaria de vos contar a triste realidade que com frequência presencio quase que diariamente no meu dia-a-dia profissional.

Na Inglaterra país onde resido e trabalho, os portadores de Autismo recebem inúmeros apoios por parte de Instituições.

Cada vez mais constroem se Centros, Escolas e formam se profissionais para que estas Crianças, adultos possam viver dignamente e com todo o apoio por parte de pessoas que entendem cada caso individualmente, um apoio que se estende aos familiares.

A Inglaterra conta também com um Serviço que apoia Estrangeiros vindos de países onde pouco ou nada se fala sobre Autismo e não existem profissionais que possam apoiar portadores e familiares.

Como estrangeira a residir no Reino Unido, especialista em Autismo e por ser proveniente de um país de expressão Portuguesa, são vários os casos pela qual sou responsável, vindos de países onde se fala o Português.

Sinto me triste e indignada porque grande parte dos casos que acompanho vindos de Angola e Moçambique, principalmente, são casos absurdos na qual o maior problema não é o Autismo em si e sim a falta de conhecimento e o diagnostico errado que muitas destas crianças/adultos receberam nos seus respectivos países.

Casos de Crianças mutiladas pelos seus próprios familiares pois acreditam que as mesmas foram possuídas por algum demónio e infligindo dor conseguirão expulsar o demónio.

Casos de abandono, tortura física e psicológica…

Pessoas que viveram uma vida de sofrimento e só aqui na Inglaterra conseguiram receber o diagnóstico e algum tipo de ajuda.

Já se fala em mais de 80 milhões de portadores de Autismo pelo Mundo e isto sem mencionar os países onde não existem dados epidemiológicos como é o caso de Angola, Moçambique, Cabo Verde…

Estamos numa era de Mudanças, “assim o dizem”

Não podemos de maneira alguma continuar a ignorar a realidade que é o AUTISMO.

Os Governos destes países precisam investir em formação de profissionais da área, Infra-estruturas e educar o povo com relação a existência desta condição que afecta muitos africanos.

É preciso que deixem de diagnosticar Portadores de Autismo como doentes mentais ou que charlatões se aproveitem da fragilidade dos familiares e usem crenças religiosas e afins para justificar uma condição que se receber o devido acompanhamento dependendo do grau, poderão levar uma vida razoavelmente normal.

Gostaria que neste novo ano os países Africanos apostassem menos no “ LUXO” na miséria e ajudassem mais na qualidade de vida do seu povo, começando pela Saúde pois sem ela, nada fazemos.

 

One Comment

  1. Prezada, várias vezes lemos as crónicas duas vezes. Tive de fazê-lo pois o assunto é sério e pouco se conhece. Obrigado pelo alerta.

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