Água: quando falta o mais precioso líquido…

Enquanto para muitos, porque é isso que lhes faz mover a economia e os bolsos de alguns, o petróleo é o produto – depois dos diamantes – mais preciso que um país pode explorar, para uma larguíssima maioria – na realidade, para todos, – o mais precioso produto explorável e defendível, denomina-se água: seja a doce ou potável, seja a do mar.
Há zonas na Terra onde água potável – e é desta que hoje escrevo – é tão carente que a sua falta, só por si, dá direito a inúmeros conflitos sociais, económicos e, principalmente, diplomáticos e militares.
Recordemos, por exemplo, a zona do Médio Oriente (Israel-Palestina,-Jordânia com o Rio Jordão, ou o complexo Tigre-Eufrates e como barragens podem criar tensões entre Iraque e vizinhos) ou em África, com as barragens no Nilo (lembremos, por exemplo a que está a ser construída no Nilo azul – o maior fornecedor de água ao Nilo – pela Etiópia, a barragem Renascença, e que chegou a provocar uma batalha diplomática com o Egipto, com ameaças de guerra pelo então presidente egípcio Morsi por eventual falta de água no Nilo; situação parece ter atenuada com o actual presidente egípcio al-Sisi)
Ou quando países decidem fazer trasvazes de rios, que trespassem pelas suas terras, sem respeito pelos países limítrofes que serão os fiéis depositários das respectivas fozes.
No imediato, recordo, o que Espanha tem feito ao transferir águas dos rios internacionais que desaguam em Portugal, para alimentar os seus rios menos caudalosos e que suportam a sua agricultura intensiva. Muitas vezes os principais rios internacionais espano-portugueses chegam a Portugal com deficiente caudal, com as consequências que se compreendem. O que vale é que os Portugueses são compreensivos e aceitam tudo…
Ora o 22 de Março, é conhecido pelo Dia Mundial da Água e foi implementado pela Assembleia Geral da ONU, pela resolução A/RES/47/193 de 21 de Fevereiro de 1993.
Serve para lembrar todos, mas a todos – flora, animais (irracionais e os outros, ditos racionais), políticos e Estados – que a água é um bem não eterno, se políticos e os disto racionais, ou humanos, não protegerem o Ambiente. É um fundamental líquido para a plena e sã sobrevivência das espécies
Pelo Dia Mundial da Água, e apesar de sermos um País extraordinariamente aquífero, não temos sabido usar dessa vantagem para proteger as nossas populações. Segundo a UNICEF, quase de metade dos agregados familiares angolanos (cerca de 47%) continuam a não ter acesso a fontes de água potável e muitas crianças passam horas a caminhar diariamente para aceder a este precioso e fundamental líquido para a plena e sã sobrevivência das populações.
Segundo a agência LUSA, citando um relatório da UNICEF, em 2017 este organismo terá fornecido água potável a perto de 30 milhões de pessoas em emergências humanitárias, sendo que «284.184 das quais se encontravam em Angola» (não esqueçamos que a dada altura Angola teve de apoiar humanitariamente os vários milhares de refugiados da RDC).
Ainda assim, a UNICEF reconhece que Angola registou – como cita, com a devida vénia, o Jornal Folha 8 – uma “evolução no acesso à água dos agregados familiares entre 2015-2016 comparativamente a 2008-2009, aumentando 12 pontos percentuais (42% para 54%), crescimento que se registou sobretudo nas áreas urbanas”.
Todavia, muitas das nossas crianças – por vezes e não poucas vezes, muito pequenas – ainda precisam de percorrer quilómetros para obter o precioso líquido e transportá-lo em recipientes que, não poucas vezes são maiores e mais pesados que elas.
Até quando, que a 22 de Março, Dia Mundial da Água, e todos os anos, teremos de recordar este facto?
*Investigador do Centro de Estudos Internacionais do ISCTE-IUL(CEI-IUL) e Pós-Doutorando da Faculdade de Ciências Sociais da Universidade Agostinho Neto**
** Todos os textos por mim escritos só me responsabilizam a mim e não às entidades a que estou agregado
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