Ajuda humanitária – nova via de agressão à mulher

Infelizmente somos muitos a saber por experiência própria que, em guerra, a ajuda humanitária faz parte do conflito. Todos os beligerantes querem participar das negociações sobre ela porque isso dá um certo reconhecimento internacional. Por outro lado, todos querem participar da distribuição, seja para ficar com uma parte, seja para aparecer perante a população como benfeitor. As próprias agências internacionais dedicadas ao tema tiram grandes vantagens, prestigio que conduz a maiores verbas. São desvios e aproveitamentos aos quais nos habituamos nos nossos anos de guerra e que criticávamos como abusos.
Hoje, com as notícias da Síria, acho que não tinhamos grandes motivos de queixa. Agentes locais de distribuição de meios de sobrevivência no conflito sírio, trocam os produtos por sexo, ou seja, tiram partido da fome para obter “favores” das mulheres em zona de alto risco. Isto é mil vezes pior que os assédios, moeda corrente em vários países e não se trata de fazer campeonato. É uma constatação de nível agravado de crime.
Em Angola nunca se chegou a situações dessas. Os democratas sem partido que durante a guerra lutaram pelos direitos humanos, estiveram no “olho do furacão” atentos às diversas violações desses direitos e a abertura de corredores humanitários era uma das nossas reivindicações. O esmagamento da liberdade de expressão era moeda corrente por todos os beligerantes, mas as agressões sexuais muito raras, menos até das verificadas hoje nas nossas cidades. Impor sexo em troca de comida nunca ouvimos falar. Se aconteceu foram casos isolados que nos escaparam. Na Síria é prática habitual em diversas áreas.
Não quero com isto dizer que os angolanos sejam “melhores” que os sírios. Só quero significar que os vícios de base e os pequenos desvios da ajuda humanitária dos anos 1980 ao começo deste século, em países como Angola, ganharam peso e volume noutros confrontos e passaram á fase da bestialidade. Com noticias vindas de outras partes do mundo sobre pedofilia de soldados da “manutenção de paz”, funcionários de respeitáveis ONG’s alimentando prostituição ou repressão de refugiados, pergunto-me se tudo isto já não está longe demais e nem a ONU nem essas respeitáveis entidades revelam capacidade para controlar parte dos seus agentes ou intermediários.
Se continua assim, em breve a expressão “ajuda humanitária” será motivo de sarcasmo ou de repulsa.