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Angola ameaça deixar Lisboa sem embaixador

No número 68 da Avenida da República, em Lisboa, há uma cadeira vaga para o novo representante de Angola em Portugal. Já se sabe a quem se destina: o Presidente angolano já o escolheu e o Presidente português já aprovou. Mas a cadeira da embaixada não será ocupada pelo futuro embaixador, porque Angola está irritada com a Justiça portuguesa e não quer escondê-lo, quer mostrá-lo.

Portanto, João Lourenço não vai indicar para já o embaixador. “Os sucessivos avisos feitos pelo Presidente [de Angola] são para ser levados a sério”, disse ao Expresso, fonte da Presidência angolana”. Mas este não é só um aviso, é uma tomada de posição. A diminuição do nível de representação diplomática em Portugal com a não-indicação de um embaixador para substituir Marcos Barrica vem acentuar a tendência para Luanda continuar a condicionar a normalização das suas relações com Lisboa ao desfecho do caso que envolve o antigo vice-presidente Manuel Vicente.

” Para Angola não há caso e vamos agir sempre em defesa dos nossos interesses para encontrarmos uma saída airosa”, disse ao Expresso uma fonte da Presidência angolana.

“Se Portugal insistir em levar avante o caso, não teremos outra alternativa senão adequar a nossa diplomacia às circunstâncias e, nesse caso, temos todo o tempo do mundo e a relação com Portugal pode continuar a esperar”, disse uma fonte do MIREX.

Apesar de ter sido feito o pedido de agrément para acreditação de Carlos Alberto Fonseca, antigo assessor diplomático de José Eduardo dos Santos, para ocupar o posto de embaixador em Lisboa, esse sinal para Luanda “não altera nada nem garante que venha a ser ele o embaixador”.

Em Portugal, a Presidência da República prefere desdramatizar, recordando que Luanda propôs Carlos Alberto Fonseca para novo embaixador em Lisboa, tendo Marcelo Rebelo de Sousa dado o agrément no dia 21 de Novembro. Fonte oficial sublinha que “continuando o actual embaixador, José Marcos Barrica, em Lisboa, o processo decorre normal “.

Oficialmente, Belém não comenta quaisquer intenções de Angola de reter o novo diplomata. O mesmo faz o Governo de Portugal, pela voz do ministro dos Negócios Estrangeiros, Augusto Santos Silva respondeu ao Expresso que :

“Portugal não comenta as decisões dos países terceiros quanto às suas representações diplomáticas, da mesma forma que esses países não comentam as decisões de Portugal quanto às suas representações diplomáticas “.

Quando se soube da exoneração de Marcos Barrica, Marcelo Rebelo de Sousa esforçou-se por afastar quaisquer leituras menos abonatórias para as relações bilaterais entre os dois países. Pelo contrário, disse não haver “nenhuma razão crítica. Há um que sai e há outro que já tem agrément. Até já tem há bastante tempo”, afirmou o Presidente no início desta semana.

Isabel Godinho, e o “baptismo de fogo”

Nos próximos tempos, a cadeira da Embaixada de Angola em Lisboa será interinamente ocupada por Isabel de Jesus da Costa Godinho, ministra conselheira com categoria de embaixadora que passa a exercer as funções de Encarregada de Negócios.

É a primeira vez que uma mulher assume o cargo em substituição de um embaixador angolano em Lisboa. “Isabel Godinho tem aqui o seu baptismo de fogo e oportunidade de colocar em prática todo o seu profissionalismo e experiência diplomática “, disse uma fonte da Vivências Press News.

“É uma mulher competente, inteligente e de fino trato. Estuda bem os dossiês e tem experiência diplomática. Conhece bem a realidade política, social, cultural e académica portuguesa . Foi no ISEG em Portugal onde concluiu a sua licenciatura. Está na Missão Diplomática de Angola em Portugal desde 2011. Além da brilhante passagem pela representação diplomática de Angola na ONU em Nova Iorque”, revela a fonte .

Uma fonte diplomática portuguesa disse a Vivências Press News, disse que a actual Encarregada de Negócios terá uma missão difícil mas estimulante.

” Será para ela um desafio pessoal e profissional. Angola nunca teve uma mulher no comando da sua missão diplomática em Lisboa, ainda que nesta condição que a Dra. Isabel Godinho passa a exercer o cargo. Será também um teste para saber como o corpo diplomático angolano e funcionários da embaixada lidam com as lideranças no feminino. Será interessante observar a sua reacção. Além deste trabalho de gestão interna, ela tem a responsabilidade acrescida de estar à frente da missão diplomática num momento mais difícil das relações entre os dois países. Se for bem sucedida agora, certamente terá portas abertas para outros voos na sua carreira “.

” Outro facto relevante, é que Isabel Godinho pode sempre contar com o apoio e colaboração de dois diplomatas da sua geração e que tal como ela são também embaixadores de carreira. É o caso de Luís Filipe Galiano que é cônsul -geral de Angola em Faro, e de Narciso do Espírito Santo Júnior actual cônsul de Angola em Lisboa, que são quadros experientes do MIREX e que, certamente estarão disponíveis para ajudar e aconselhar sempre que Isabel Godinho solicitar. Além de que ela tem boas relações pessoais e de trabalho com ambos “, reforça a mesma fonte.

Isabel Godinho, é também co-autora do livro: ” Angola no Conselho de Segurança da ONU”, que retrata os grandes momentos da participação de Angola como membro não-permanente do Conselho de Segurança das Nações Unidas de 2003 a 2004. José Paulino da Silva ( antigo director dos SME) e Téte António (actual secretário de Estado das Relações Exteriores) foram os outros autores do livro, que foi lançado em Luanda em Agosto de 2007. Luís Fernando, jornalista e escritor ( actual secretário para os Assuntos de Comunicação Institucional e Imprensa do Presidente da República) foi o apresentador do livro.

Fonte : Expresso e Vpnews

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