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Angola dá o primeiro passo para criar rede ferroviária nacional

O Executivo angolano vai criar, a partir do início do próximo ano, uma nova entidade para gerir a infraestrutura ferroviária, anunciou na última sexta-feira o ministro dos Transportes, Ricardo de Abreu.

“Estamos a materializar a constituição da empresa nacional de infraestruturas ferroviárias. Essa entidade é que vai ficar com a responsabilidade de gerir e manter a infraestrutura a nível nacional”, disse o ministro à chegada ao Aeroporto Joaquim Kapango, no Cuito (Bié), reinaugurado esta sexta-feira após dois anos de obras de modernização.

“Estamos a fechar o dossier para, no início do próximo ano, materializar essa empresa”, adiantou Ricardo de Abreu.

Com a criação da nova entidade desaparecem os actuais Caminhos de Ferro de Luanda ( 479 quilómetros), Caminhos de Ferro de Benguela (1.344 quilómetros) e Caminho de Ferro de Moçamedes ( 756 quilómetros). Os três constituem actualmente três empresas públicas autónomas e têm a particularidade de ligarem o interior do país ao litoral.

O objectivo do Governo angolano é ligar estas três linhas “horizontais” com um corredor “vertical” desde o Soyo (na fronteira com a República Democrática do Congo) até Lubango, passando por Luanda e Lobito.

A criação de uma empresa de infraestruturas ferroviárias é um primeiro passo para fazer uma gestão conjunta dessas linhas que passarão a estar ligadas por essa futura linha que rasgará o país de norte a sul junto à costa. Há ainda outro projecto para uma linha “vertical” mais interior que ligue Malanje ao Huambo e Menogue.

A futura “Refer angolana” permitirá, numa segunda fase, abrir o negócio ferroviário a privados através de concessões de alguns serviços. Mas uma eventual privatização dos caminhos de ferro está excluída, até porque estes nem sequer constam na lista das 195 empresas que o Executivo liderado por João Lourenço quer alienar até 2022.

As concessões de serviços ferroviários de passageiros e mercadorias poderão ser uma oportunidade para Portugal, que tem um patamar tecnológico muito próximo da realidade angolana, sobretudo devido ao peso da frota diesel e à existência de oficinas, equipamentos e know-how que seriam úteis num caminho de ferro com estas características.

Nos anos 90 foi já tentada uma parceria com técnicos portugueses da CP e da EMEF, que acabaria por ser interrompida devido à guerra e à falta de recursos financeiros.

Após a guerra civil, Angola já recuperou a maioria das suas linhas, mas fê-lo com a ajuda de empresas chinesas. Os 1.344 quilómetros do Caminho de Ferro de Benguela, que liga Lobito à localidade fronteiriça do Luau (antiga Teixeira de Sousa), foram reconstruídos pelo grupo chinês CR20 Angola Internacional Company e entregues ao Governo angolano recentemente.

Esta linha, tal como as de Luanda e de Moçamedes, está subaproveitada. Um documento do Governo angolano, denominado “Plano Director Nacional do Sector dos Transportes & Estudo de Viabilidade Preliminar da Ligação Ferroviária entre o Caminho de Ferro de Benguela e a Zâmbia”, refere que os níveis de tráfego da ferrovia do país “são baixos, não lucrativos e dependem de subsídios”.

O mesmo plano diz que “faltam ligações ferroviárias para áreas industriais e portuárias” e reconhece que “as companhias ferroviárias não são estruturas [vocacionadas] para a eficiência máxima dos negócios através da potencialização da participação do sector privado”.

Actualmente, a frota angolana é essencialmente composta por locomotivas chinesas e americanas e carruagens chinesas e indianas.

Fonte: PÚBLICO.

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