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Angola fez negócio de 560 milhões de dólares com a mesma empresa da “dívida oculta” de Moçambique

“Há indicações cada vez maiores de envolvimento de líderes políticos angolanos no escândalo moçambicano que ainda não foram totalmente divulgadas”, escreve a consultora EXX Africa num “Relatório Especial” sobre a ligação entre a empresa Privinvest e o Governo de Angola, quando o actual Presidente da República [João Lourenço] era ministro da Defesa.

O Ministério da Defesa, diz esta consultora, “chegou a fazer contrato de 560 milhões de dólares (495 milhões de euros) para comprar barcos e capacidade de construção marítima à Privinvest, num contrato com aparentemente notáveis semelhanças com a Proindicus e a MAM ( em termos de palavreado e conteúdo)”, as empresas que estão no centro do escândalo da ‘dívida oculta’ de Moçambique.

“Estas ligações e os negócios feitos arriscam-se a minar o ímpeto muito popular e mediático contra a corrupção, e podem também embaraçar os principais líderes políticos angolanos, e colocam riscos reputacionais para os investidores em Angola”, acrescenta-se no relatório, enviado aos clientes desta consultora, e que a Lusa teve acesso.

Em causa estão dois contratos que a EXX Africa diz terem sido assinados pelo Ministério da Defesa com as empresas Privinvest e Proindicus, as duas empresas que negociaram empréstimos de mais de mil milhões de dólares à margem das contas públicas, em Moçambique.

“A conclusão mais significativa [da investigação levada a cabo pela consultora EXX Africa] é que a Simportex, uma empresa do Ministério da Defesa, e que entrou numa parceria com a Privinvest, assinou dois contratos significativos , no total de 138 milhões de dólares , em 2015, com a Finmeccanica, agora chamada Leonardo S.p.a para aquisições que a Privinvest poderia ter feito ela própria”, lê-se no documento.

Em Dezembro de 2015 a Simportex terá “assinado contratos para a compra e venda de equipamento, parte suplentes, e para dar instalação e treino para equipar um centro nacional e três centros de coordenação marítima regional, bem como para instalar várias estações de controlo, replicadores de sinal e meios de comunicação na costa angolana”.

O relatório explica que “o acordo foi feito entre o Ministério da Defesa e a Selex Company Ess num valor em kwanzas equivalente a 130 milhões de dólares”, e incluía também “a compra e venda de dois veículos de patrulha ultrarrápidos , peças suplentes, ferramentas e serviço de treino, entre o Ministério da Defesa Nacional e a companhia Whitehead Sistemi Subacquei SPA, num valor em kwanzas equivalente a 8,2 milhões de dólares”.

Ainda em 2015, a consultora diz que Angola “entrou noutro acordo com a subsidiária francesa da Privinvest, a CMN (que construiu os barcos da EMATUM) para fornecer um projecto hidroeléctrico”, sobre o qual não são dados mais pormenores.

Citando uma fonte “próxima da Proindicus”, a EXX Africa diz que João Lourenço, enquanto ministro da Defesa, visitou o projecto de Moçambique “enquanto parte de um esforço da Privinvest, liderada por Boustani, para lhe vender um pacote similar” ao que apresentado a Moçambique.

O antigo vice-presidente de Angola Manuel Vicente, apresentado como alguém “que agora age como consultor financeiro e económico com extraordinários poderes e influência sobre as políticas públicas”, terá tido um “papel proeminente” nos acordos entre Angola e a Privinvest, já que terá apresentado o empresário Gabriele Volpi às autoridades moçambicanas, primeiro, e depois entre Jean Boustani e João Lourenço e a Privinvest.

Em declarações à agência Lusa, o director da EXX Africa e autor do relatório diz que o relatório “não acusa ninguém de qualquer acto ilícito nos negócios entre a Simportex e a Privinvest”, e enfatiza que o objectivo é ” alertar para o facto de que a Privinvest tem uma reputação controversa e que os negócios com esta firma devem ser sujeitos a um escrutínio mais próximo, preferencialmente pelo próprio Governo angolano”.

Questionado sobre os pormenores da investigação levada a cabo, Robert Besseling disse que “o objectivo era alertar os nossos clientes sobre a possibilidade de haver um risco reputacional que precisa de ser investigado mais em detalhe para eles limitarem a sua exposição” e conclui que “o precedente sobre o que aconteceu em Moçambique deve servir como um aviso para todas as partes envolvidas em grandes negócios de procuração em Angola”.

Entre os documentos apresentados pela Justiça norte-americana contra Jean Boustani e Manuel Chang, há uma apresentação de 27 páginas sobre o que é a Privinvest, na qual são apresentados exemplos de projectos em países como Alemanha, França e Angola, sendo que neste último mostra-se um desenho computorizado de uma fragata ligeira, de 90 metros, com o título “Project Angolan Navy”, mas sem mais pormenores para além das especificações técnicas da fragata.

Fonte: Lusa.

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