Angola no caminho certinho

Isto de devoção ao poder angolano tem dias tristes. Antes, José Eduardo dos Santos era o sol que brilhava no sul. No congresso do MPLA em 2016, o PSD representou-se por Marco António Costa, o PS por Ana Catarina Martins, o CDS por Hélder Amaral (“temos muito mais pontos em comum”) e o PCP por Rui Fernandes.
A novidade era o CDS, aliás com passadeira vermelha: Paulo Portas foi o “convidado especial” do congresso. O presidente foi reeleito e muito aplaudido, as delegações portuguesas gostaram, a amizade era muito sentida. Havia mesmo muitos pontos em comum.
Depois, a família Dos Santos caiu, o pai concluiu o mandato, um filho preso, a filha sem a Sonangol, outro filho sem a comunicação social, investigações criminais, uma tristeza. E os mesmos que tinham tantos pontos em comum passaram a aplaudir João Lourenço, que afinal está a limpar o palácio, aquilo precisava era de uma limpeza, olha a coragem do homem. Voltou a ser uma amizade feliz.
Em dezembro, o Governo angolano anunciou um acordo com o FMI para um financiamento de emergência. A receita do FMI é, como sempre, drástica: cativação de 40% da despesa prevista no Orçamento.
A ideia foi muito bem recebida pelos apoiantes em Lisboa. Cativações são um remédio santo, bloqueiam o investimento público. O privado terá uma oportunidade gulosa. Vinda de Luanda, uma secretária de Estado ( ! ) anunciou em Londres ( ! ) um ambicioso plano de privatizações, começando no petróleo (52 participações da Sonangol), e passando pelas telecomunicações, banca e seguros, ou seja, como sempre os sectores que assegurarão uma renda de monopólio para os capitais externos e para alguns generais muito marxistas-leninistas .
Já vimos isto tantas vezes que nem podemos estranhar que os devotos do palácio presidencial de Luanda apoiem mais esta viragem que empobrecerá Angola. A arte está sempre em saudar tudo o que vier.
Artigo de opinião de Francisco Louça na coluna “Estado da Noção” no semanário Expresso de 02.02.2019.