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Angola: Reequipamento militar comprometido

A crise económica declarada em 2014 por efeito da queda dos petróleos comprometeu de forma considerada “severa” a execução de um vasto plano de reequipamento e reorganização das Forças Armadas Angolanas (FAA) que deveria estar concluído em 2025.

Foram suspensos planos, então, ainda em fase preliminar (consultas), tendo em vista a aquisição de equipamento a fornecedores israelitas (estatais e privados). As encomendas que estavam a ser consideradas, num valor total estimado em mil milhões de dólares, destinavam-se especialmente à Força Aérea Nacional (FAN) e ao Exército.

Foi proposta à Itália a renegociação de um contrato concluído em 2015 tendo em vista o fornecimento de navios destinados a constituir uma frota de patrulheiros médios da Marinha de Guerra de Angola (MGA). A renegociação, incidindo em especial nos encargos financeiros a suportar por Angola (down payment), mas eventualmente também no volume da encomenda, foi um dos principais temas das conversações do PM italiano, Paolo Gentiloni, com as autoridades angolanas numa recente visita a Luanda.

Os planos de reedificação das FAA (reorganização e reequipamento) a cumprir até 2025, previam igualmente grandes investimentos na construção/recuperação de quartéis e outras instalações militares ficam também comprometidos. O desígnio do “Angola 2025”, designação do plano, consistia em dotar as FAA de poderio condizente com o estatuto de potência regional do país.

Nas características das restrições impostas aos planos de reequipamento militar pelas actuais limitações orçamentais, meios competentes têm notado uma orientação das autoridades de “poupar o mais possível” a MGA. Ao contrário, a Força Aérea Nacional (FAN), será o ramo mais afectado.

As encomendas que estava previsto fazer a fornecedores israelitas contemplavam especialmente helicópteros, aviões de transporte e caça. Os baixos níveis de operacionalidade da FAN, em todas as suas componentes orgânicas, são especialmente atribuídos a factores como envelhecimento e mau estado de conservação das suas aeronaves, em geral.

As deficientes performances da FAN levaram o Africom a rever avaliações de há cerca de dez anos que davam a sua “air lift capability”, baseada na capacidade de projecção de forças da sua frota de carga, dotada de aparelhos AN 32 e IL 76, como principal valência das FAA, a considerar no estabelecimento de uma parceria estratégica com Angola.

O propósito de salvaguardar a MGA dos efeitos mais nefastos da crise baseia-se num conceito estratégico que define aquele ramo das FAA como sendo o mais determinante na defesa e segurança do território, tendo em conta ameaças actuais como a pirataria marítima e o crime organizado, capazes de atingir a estrutura off shore da sua indústria petrolífera.

A MGA é igualmente o ramo das FAA com que os EUA e a União Europeia aparentemente mais contam tendo em vista o estabelecimento de parcerias com Angola nos seus esforços de fiscalização e vigilância marítima no Atlântico Sul, em especial no Golfo da Guiné. Angola e a Nigéria são os dois únicos países da região considerados “teoricamente à altura ” de cooperar com tais esforços .

O contrato concluído com a Itália em 2016 converteria este país num grande fornecedor de equipamento militar a Angola, a par da Rússia e Israel. A aparente boa vontade revelada pelas autoridades italianas no que toca às pretensões de revisão das suas condições contratuais, são consideradas reflexo de uma vontade política de não desperdiçar a oportunidade.

O grosso do material a fornecer pela Itália, considerado de tecnologia avançada, mas de operação simples, era representado por navios patrulheiros especialmente vocacionadas para acções de vigilância e auto-defesa em alto mar, bem como equipamento destinado ao reforço do controlo das fronteiras terrestres.

Os efectivos das FAA estão oficialmente avaliados em 119 mil homens, mas estima-se que o número não corresponda à realidade, por excesso. A desarmonia entre a estatística e a realidade é facilitada pelos baixos padrões de organização da instituição, descritos como “próprios” de um fenómeno similar em todo o Estado.

O empolamento artificial do número de efectivos é também consequência de expedientes ilícitos do interesse de chefes e comandantes militares, que fazem reverter em proveito próprio os soldos dos chamados “militares-fantasma” que arrolam às folhas de salários. No passado recente houve conhecimento de unidades inteiras, fictícias.

Está igualmente implantada nas FAA uma realidade considerada susceptível de distorcer a importância/significado dos seus efectivos. Os militares, não apenas os de baixa patente, têm ao mesmo tempo ocupações na vida civil, a que se dedicam a tempo inteiro ou parcial como forma de obter rendimentos capazes de colmatar lacunas provindas dos seus baixos soldos ou de atrasos no seu pagamento.

Fonte : AM Intelligence .

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