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Angola terá pago 6 milhões de dólares para estar na tomada de posse de Donald Trump, diz Wall Street Journal

Um proeminente angariador de fundos republicano, que teve um papel de destaque no financiamento da campanha presidencial de Donald e mais tarde se tornou vice-director de finanças do Partido Republicano, está a ser investigado por suspeitas de ter recebido dinheiro de países como Angola e Roménia para proporcionar a representantes deles acesso às cerimónias da tomada de posse de Donald Trump, em Janeiro de 2017.

Segundo a lei americana, é ilegal a inauguração de um Presidente ser financiada com dinheiro estrangeiro. E quem actuar como agente de países estrangeiros nos EUA tem de o declarar. Ao que parece, Elliot Broidy infringiu a lei nesses dois pontos. Na altura, o seu advogado era Michael Cohen, também advogado de Trump, que entretanto foi condenado por vários crimes e se encontra a cumprir uma pena de prisão.

Os procuradores federais estão agora a examinar em que condições os representantes do Governo angolano (na altura, José Eduardo dos Santos era o Presidente de Angola), tiveram acesso a vários eventos e a membros do Congresso por altura da tomada de posse. Segundo o diário Wall Street Journal, o Governo angolano terá pago 6 milhões de dólares à empresa de Broidy, Circinus, na sequência de um acordo que envolveu Lisa Korbatov, uma corretora de imóveis já antes associada a negócios com Omar Bongo do Gabão.

Em Abril de 2018, o site Maka Angola de Rafael Marques, citando o The New York Times, de 3 de Janeiro de 2017, Elliott Broidy enviou um email a dois altos dirigentes angolanos, informando-os sobre o envio de um convite para as festividades de empossamento e uma proposta de lobbying. O The New York Times identificou um dos dirigentes como sendo João Lourenço, na altura ministro da Defesa. Na sua investigação, o site Maka Angola apurou que o segundo foi enviado para o então director do Serviço de Inteligência Externa (SIE), tenente-general André de Oliveira Sango.

A proposta de lobby indicava que a Circinus prestaria serviços de segurança a Angola pela soma de 64 milhões de dólares, durante um período cinco anos.

Três dias antes do empossamento de Donald Trump, o Governo angolano, de acordo com o The New York Times, efectuou um pagamento de 6 milhões de dólares à Circinus, aparentemente 2 milhões menos do que havia sido previamente acordado. No mesmo dia, os angolanos e Broidy encontraram-se no Senado com os senadores republicanos Tom Cotton, do Arkansas, e Ron Johnson, do Winsconsin.

Entretanto, João Lourenço, não marcou presença na tomada de posse de Donald Trump nem no encontro com os senadores. A sua viagem aos Estados Unidos foi “sabotada” pela Presidência da República de Angola, conforme apurou o Maka Angola.

Em Fevereiro de 2017, segundo o The New York Times, Broidy escreveu novamente a João Lourenço, informando-o sobre os seus planos para que este se deslocasse ao complexo turístico privado de Trump, para um encontro com o Presidente dos Estados Unidos da América. Broidy falava nos preparativos para a visita, que incluíam encontros no Capitol Hill ( Congresso e Senado) e o Departamento do Tesouro. Para o efeito, exigia o “pagamento imediato” pelos serviços da Circinus.

João Lourenço deslocou-se aos Estados Unidos da América em Maio de 2017, onde foi recebido pelo secretário de Defesa, James Mattis.

Já depois de ter sido empossado, em Setembro do mesmo ano, João Lourenço recebeu nova mensagem de Broidy, em que este se propunha a organizar encontros com Donald Trump e Mike Pence, para a promoção de melhores relações entre os dois países.

O The New York Times nota que João Lourenço não se deslocou a Mar-a-Lago e nunca respondeu às mensagens de Broidy. Por sua vez, a Circinus, empresa de Broidy, não recebeu pagamentos adicionais para além dos 6 milhões de dólares iniciais.

O papel de André de Oliveira Sango, então chefe do SIE

Segundo fontes angolanas familiarizadas com o negócio, Elliott Broidy estabeleceu contacto com o director-geral do Serviço de Inteligência Externa (SIE), tenente-general André de Oliveira Sango, ainda durante a campanha eleitoral nos Estados Unidos.

Broidy propunha acesso privilegiado de Angola ao poder político de Donald Trump: investimentos no valor dos 50 mil milhões de dólares. Em troca, solicitava acesso ao petróleo angolano para os interesses privados que representava.

Informado da proposta, o Presidente José Eduardo dos Santos encorajou André Sango a prosseguir com as negociações, tendo passado uma autorização formal para ser apresentado aos lobistas associados a Donald Trump .

Para além da exploração petrolífera, o chefe da Inteligência Externa angolana discorreu sobre a importância estratégica de Angola como o baluarte do cristianismo em África, devido à onda crescente do Islão. Referiu também que Angola é dos países africanos que mais assimilou a civilização ocidental, o que lhe confere uma relação privilegiada com o Ocidente.

Entretanto, a equipa de Elliott Broidy foi clara ao afirmar que a condição sine qua non para o apoio à futura administração Trump seria a reforma política de José Eduardo dos Santos.

André Sango, revelou a intenção de José Eduardo dos Santos de abandonar voluntariamente o poder, comunicando que já havia um sucessor na calha.

Foi nesse encontro, já depois da eleição de Donald Trump, que André Sango foi convidado a participar na cerimónia de empossamento. Um segundo convite foi formulado ao então putativo sucessor de José Eduardo dos Santos.

José Eduardo dos Santos aprovou a representação de Angola na cerimónia de tomada de posse de Donald Trump, e indicou João Lourenço como o mais alto representante do país. Por sua vez, enfatizam as fontes do Maka Angola, João Lourenço mostrou-se bastante animado com o convite e com a perspectiva de um encontro com Trump.

Um semana depois, os convites chegaram a Angola, e André Sango cuidou de informar o Presidente da República. Por sua vez, José Eduardo dos Santos pediu-lhe para trabalhar com o então chefe da Casa de Segurança do PR, general Manuel Hélder Vieira Dias Júnior “Kopelipa”. A partir daqui começa a cabala.

Kopelipa duvidou da autenticidade dos convites. Nessa altura, Kopelipa animava um grupo que considerava errada a potencial escolha de João Lourenço como candidato do MPLA e sucessor de José Eduardo dos Santos.

“Kopelipa chamou Aldemiro Vaz da Conceicão para criar confusão. Este, por sua vez, chamou o então embaixador itinerante António Luvualu de Carvalho, para ir transmitir a João Lourenço que os convites eram falsos”, relata fonte do Maka Angola.

André de Oliveira Sango na tomada de posse de Donald Trump

Na conversa seguinte, antes da viagem de André Sango para a tomada de posse de Donald Trump, José Eduardo dos Santos transmitiu-lhe o memorando de Kopelipa sobre a “falsidade” dos convites. André Sango seguiu para Washington, onde teve de explicar que João Lourenço ficou em terra por imperativos da pré-campanha eleitoral.

André Sango sentou-se “três ou quatro mesas depois de Donald Trump”, numa das cerimónias inaugurais do Presidente dos Estados Unidos da América.

Em Luanda, André Sango comunicou a João Lourenço os estragos causados pela “sabotagem”, como foi “pedir satisfações” ao seu chefe.

“José Eduardo dos Santos disse apenas que houve falha do general Kopelipa e que a sua filha Isabel dos Santos resolveria o assunto, na qualidade de amiga da filha de Trump”, revela fonte do Maka Angola.

André Sango disse que o PR não devia confundir assuntos pessoais com assuntos de Estado. Falou da oportunidade desperdiçada devido ao acto de sabotagem do general Kopelipa e de Aldemiro Vaz da Conceicão. Colocou o seu cargo à disposição e retirou-se da sala sem se despedir de José Eduardo dos Santos

Em reacção, José Eduardo dos Santos ligou ao general Leopoldino Fragoso do Nascimento “Dino”, seu homem de confiança e leal servidor, para ir falar com André Sango e demovê-lo da decisão de se demitir do cargo.

Entretanto, João Lourenço visitou Washington em Maio de 2017, durante a pré-campanha eleitoral, e teve encontros com o secretário da Defesa dos EUA, James Mattis, assim como com senadores. Não se sabe, no entanto, se essa viagem fez parte dos esforços de André Sango com Elliott Broidy e outros lobbys norte-americanos.

Fontes: Expresso, Maka Angola, The New York Times.

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