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Bairro da “Jamaica” em Portugal começou a ser desocupado

Um dos três prédios devolutos de Vale de Chícharos, Seixal, conhecido por Bairro da Jamaica, vai ser demolido na próxima quinta-feira. As 64 famílias ( vivem no bairro mais de 200 famílias) residentes no lote 10 já se dirigiram à autarquia para lhes serem atribuídas novas casas com rendas adequadas ao rendimento que auferem.

A deslocalização, iniciada esta segunda-feira de manhã, será feita no espaço de três dias e ao quarto, na quinta-feira, o prédio com sete andares será demolido para evitar nova ocupação ilegal do espaço.

A Misericórdia do Seixal tinha anunciado a demolição há um ano e hoje, no bairro já se fala na nova vida para os moradores que ocupam o espaço há mais de 20 anos. A desocupação dos restantes dois lotes com 170 famílias dar-se-á faseadamente até 2022, num esforço financeiro global entre a autarquia e Instituto da Habitação e da Reabilitação Urbana (IHRU) a rondar os 15 milhões de euros.

“Já lutávamos há muito por isto e até houve momentos em que perdemos a esperança”, conta Dirce Noronha, responsável pela comissão de moradores e que reside no lote 10, o que será alvo de demolição.

Aquele que foi outrora um foco de criminalidade no concelho do Seixal apresenta agora problemas relacionados com higiene, pestes, falta de iluminação e água e, principalmente, a humidade dentro das casas que provoca problemas respiratórios nos moradores.

Andreia Tati, 26 anos, ocupa um andar com três filhos e quatro irmãos e a partir de segunda-feira tem uma casa para si e os três menores. Os quatro irmãos serão realojados noutra habitação.

“A humidade nas paredes é o principal problema para os mais novos que têm já problemas respiratórios”, lamenta a jovem angolana.

Ao longo do ano, a Autarquia adquiriu habitações dispersas no concelho do Seixal, em zonas urbanas com fácil acesso a serviços. “Não queríamos juntar as famílias num só espaço, mas dispersa-las pelo concelho e assim aumentar as hipóteses de integração”, referiu Joaquim Santos, presidente da Câmara Municipal do Seixal.

Foram realizadas obras de beneficiação nas habitações que hoje estão prontas para receber os novos moradores. “As casas foram submetidas a obras profundas para que nada falte aos novos inquilinos”, acrescenta o autarca.

Com uma área de cinco hectares, sobre cujos imóveis foi executada uma hipoteca por parte do banco, o bairro da “Jamaica” é considerado o maior bairro ilegal de Portugal.

“Uma Jamaica Lusitana com costela Africana”

“Uma Jamaica Lusitana com costela Africana” é o título de uma crónica do jornalista e escritor angolano, Armindo Laureano, resulta de uma visita efectuada ao bairro em Dezembro de 2017, acompanhando a comitiva do cônsul-geral de Angola em Lisboa, Narciso do Espírito Santo Júnior.

Na crónica, incluída no livro “Riscos e Rabiscos” do autor, fala de “um cidadão angolano, natural de Catete, residente no bairro, que era muito popular por aquelas paragens e gostava de pinchar as paredes com a inscrição: Jamaica de Catete. Sendo uma figura muito popular e acarinhada pelos demais moradores, não demorou para que o bairro passasse a ser chamado do Jamaica. Soube que depois de algum tempo o ‘do’ deu lugar ao ‘da’ e hoje é o Bairro da Jamaica”, escreve o jornalista.

“É uma espécie de fronteiras entre aquilo que eles são e o que as circunstâncias da vida os obrigaram a ter. Aquelas casas tortuosas, labirínticas, sem nexo arquitectónico, pouco óbvias e também pouco acolhedoras, são lugares onde nos podemos perder numa aliciante viagem de culturas, de cheiros, saberes e sabores”, escreve Armindo Laureano.

O Bairro da Jamaica também foi capa da primeira edição da revista Mukanda, a publicação oficial do Consulado-Geral de Angola em Lisboa, lançada em Março deste ano.

Mais de 200 famílias, cerca de 1.300 pessoas de países oriundas de Angola, São Tomé e Príncipe, Guiné-Bissau e Cabo Verde vivem no Bairro da Jamaica.

Fontes : JN e VPNEWS.

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