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Bispos angolanos confirmam um caso de abuso de menores

Os bispos católicos angolanos admitiram hoje que em Angola “não existem dados de abusos de menores na Igreja”, indicando que no único caso registado no país, sem especificar quando, o autor foi “entregue à Justiça e julgado”.

“Essa pessoa está a assumir as suas responsabilidades. Mas, o facto de não termos dados, não quer dizer que não aconteçam. Daí que estamos a tomar as disposições para procurarmos acautelar e prevenir”, disse hoje o presidente da Conferência Episcopal de Angola e São Tomé (CEAST), Filomeno Vieira Dias.

“Temos a disponibilidade de escutar, procurar perceber e acolher aqueles casos que nos chegarem ou as denúncias que nos chegarem, porque a igreja não se esconde. É algo que deve ser estripado”, sublinhou o também arcebispo de Luanda.

Falando hoje em conferência de imprensa, em Luanda, no final da primeira assembleia plenária ordinária dos bispos da CEAST, o sacerdote católico considerou o abuso de menores na igreja uma “monstruosidade abominável e condenável”.

“Choca, ofende e descredibiliza aquilo que a Igreja tem como valores fundamentais, que é a tutela da pessoa humana, a defesa da dignidade de cada pessoa e uma relação saudável entre as pessoas, sobretudo a nível da igreja”, argumentou.

A problemática do abuso de menores na Igreja Católica foi discutida, em fevereiro, no Vaticano, durante um encontro convocado pelo papa Francisco e que congregou todos os presidentes das conferências episcopais do mundo, onde as vítimas apresentaram os seus depoimentos.

Segundo o presidente da CEAST, que também participou do conclave, o abuso de menores na igreja é algo que “contradiz de modo chocante com aquilo que é a natureza, a missão e a vocação da igreja”.

“É um escândalo, a Igreja não se esconde. Reconhece que se encontra diante de um escândalo, algo que desdiz aquilo que ela deve ser. Reconhecemos que estes são pecados, são desordens disciplinares, porque o padre ou a religiosa comprometem-se a um estilo de vida próprio da castidade. Ao mesmo tempo, constitui um crime civil”, declarou.

O arcebispo de Luanda salientou que, para a igreja, “os abusadores devem responder e devem ser responsabilizados pelos seus atos”, mas observou que tal não pode acontecer de forma “aleatória”, mas sim mediante “processos judiciais que comprovem estes abusos”.

Aludindo a relatórios das Nações Unidas e de outras organizações, Filomeno Vieira Dias assinalou que, apesar de considerar o tema como uma “monstruosidade”, referiu que “mais de 80%” dos casos de abuso de menores acontecem fora da Igreja.

“Mas, como disse o papa Francisco, na Igreja, mesmo que acontecesse só um caso, isso seria já gravíssimo, porque ninguém espera isso de um homem de Deus”, concluiu.

Questionado sobre a condenação do cardeal australiano George Pell, 77 anos, a seis anos de prisão por abuso sexual de dois rapazes do coro numa catedral, em Melbourne, na Austrália, há mais de 20 anos, o arcebispo considerou que o caso representa a “abertura e reconhecimento” da igreja católica sobre a existência desses crimes.

“O nosso princípio geral é de que se trata de algo abominável, condenável, reprovável, algo que, comprovando-se e nos casos comprovados, os responsáveis devem responder”, referiu, acrescentando eu se trata de “crimes que não podem prescrever, que ferem a consciência, a memória e fé, além de ferir pessoas e famílias”.

Durante a conferência de imprensa, os bispos católicos angolanos apresentaram o relatório dos trabalhos que decorreram de 13 a 20 de março, uma nota pastoral sobre a despenalização do aborto e um olhar sobre a situação socioeconómica de Angola.

Fonte: Lusa

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