
Em declarações hoje à agência Lusa, a deputada do Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA), membro do seu Comité Central, assumiu que está “involuntariamente” fora do país devido à doença da filha e que há vários meses está a ser “intimidada” por dirigentes do partido.
Face à realidade em Angola, a deputada assumiu à Lusa que está à procura de advogados em Luanda para avançar para o Tribunal Constitucional com “um pedido de impeachment [destituição] de João Lourenço” e que também procura o apoio de deputados para uma Comissão Parlamentar de Inquérito à actuação do actual chefe do Estado.
Explica as ameaças de que é alvo, apontando mesmo uma alegada lista de várias figuras angolanas ligadas ao período da governação do pai, José Eduardo dos Santos (1979-2017), que as autoridades pretendem impedir de sair de Angola por ser uma voz que contesta algumas das orientações de João Lourenço, Presidente da República e líder do MPLA.
“O Presidente da República é conivente porque nada faz”, critica.
“Está a haver um crime contra o Estado. Isto é um caso para impeachment. Este Presidente da República merece um impeachment“, afirma Welwitschia “Tchizé” dos Santos, considerada a filha mais próxima, politicamente, do ex-Presidente angolano José Eduardo dos Santos.
A deputada fala em “abuso de poder” da actual liderança em Angola, como o caso de um outro deputado do MPLA, Manuel Rabelais, próximo do anterior chefe de Estado, que em Janeiro foi impedido pelas autoridades de embarcar num voo internacional, em Luanda, apesar da sua imunidade parlamentar.
Aponta igualmente a anunciada intenção de aumentar o número de elementos do Comité Central do MPLA com a liderança de João Lourenço, antes de um congresso ordinário, o que diz contrariar os estatutos: “Mas então as regras onde é que estão?”, aponta.
Questionada pela Lusa, a deputada, com investimentos em Portugal e filhos luso-angolanos, não clarificou se pretende regressar em breve a Luanda, mas garantiu que não vai aceder ao pedido, feito esta semana pelo grupo parlamentar do partido, de suspender o mandato por estar ausente da Assembleia Nacional há mais de 90 dias.
“É o senhor João Lourenço que me está a fazer a perseguição através do MPLA, porque ninguém no MPLA toma ali uma atitude sem a autorização ou sem a orientação do Presidente”, afirmou.
Tchizé dos Santos assume os receios face aos ecos que recebe do partido e que tem vindo a denunciar publicamente, dizendo sem receios que mesmo fora do país é visada: “Passo a vida a receber ameaças.”
“E o partido não me protege, não me defende? A lei obriga o Estado a prestar segurança aos deputados e eu não fui contactada por nenhum serviço consular, para saberem como é que eu estou, como é que não estou. Obviamente que isso é um forte indício de que a perseguição está a vir do Governo e o chefe do Executivo é o Presidente da República”, aponta.
“Isto é um crime contra o Estado, um Presidente da República estar a atentar contra os direitos de um deputado eleito pelo povo para o supervisionar”, diz ainda Tchizé dos Santos, visando sempre João Lourenço.
Ainda assim, a deputada assume que o seu partido é o MPLA, e acredita que ainda é possível “um entendimento” com a actual liderança de João Lourenço, desde que se garanta a separação de poderes, entre o Parlamento, o Partido e o Presidente da República.
Afirmou que além das críticas públicas que faz, através das redes sociais, as suas acções enquanto empreendedora junto da sociedade angolana, como a recente acção de formação de zungueiras (vendedoras de rua) que realizou em Luanda, entre outras, está a “irritar” a actual liderança angolana.
Além disso, diz que está a ser visada pelas intervenções do Presidente da República e líder do partido, sobre o uso das redes sociais por responsáveis do MPLA.
“Um Presidente que está a subverter o Estado democrático de direito está a tentar dar um golpe de Estado às instituições”, afirma sobre João Lourenço.
Fonte: Lusa.