Educar para o SÉC. XXI

Há cada vez mais uma discrepância maior entre a formação académica, com maior realce para a formação superior, e as necessidades reais do país e em consequência o fosso entre as necessidades formativas e os formados.
Como disse um pedagogo português numa entrevista «temos escolas do Século XIX, com professores do Século XX a ensinarem estudantes do Século XXI» e acrescento eu, o que acontece entre nós é que no ensino superior continuamos a fazer a utilizar os mesmos métodos para tentarmos atingir objectivos diferentes dos que fundamentaram as escolas dos Séculos passados com as respectivas necessidades.
É que no paradigma da Revolução Industrial era necessário formar técnicos para as respectivas indústrias e por isso mesmo eram formatos para estarem aptos e qualificados a trabalhar nelas. Hoje as sociedades são outras, as necessidades são outras, os desafios são outros e nós continuamos a formar quadros a moda antiga para responderem aos desafios de sociedades modernas e em constante mutação.
Basta compararmos observarmos como a indústria do livro físico cedeu quota do mercado aos e-books (livros digitais) e como os jovens têm mais facilidade de os ler do que visitar uma biblioteca, podemos aliar isto à forma como o mercado discográfico do VINIL ao CD e a competitividade com o mercado da música digital ou olharmos para a indústria da fotografia que saiu do rolo para o micro SD e depois disto compararmos o valor que as diferentes faixas etárias atribuem a cada uma delas.
A partir desta realidade e voltando para as nossas faculdades percebemos logo como o uso de técnicas e recursos multimédia faz toda a diferença na sala de aulas, logo continuarmos a arrumar as salas como no século XIX é dos principais atentados que se poder dar ao estudante do Séc. XXI e exigir que cada um se sente no mesmo lugar ao longo dos dois semestres é treina-los, na nossa cultura, para o sentimento de pertença e qualquer tentativa de substituição pode significar um atentado à sua conquista, pois rapidamente se convence de que o lugar é dele e daí ninguém lhe, logo não se pode esperar que ele faça diferente depois de estar formado e no mercado de trabalho.
Continuar a distinguir aulas práticas e aulas teóricas e impedir que eles questionem e discutam ao longo das sessões é outro retrocesso que em nada abona o ensino e não está alinhado com as necessidades destes tempos que correm, pior do isto é o Docente colocar-se na e em posição superior – supra sumo (como diz uma amiga) – e os estudantes na posição rebaixada de quem nada sabe e tem de aprender e por isso não tem nada que perturbar a eloquência e o momento do Professor e em consequência não corresponde as necessidades da nossa sociedade e em que se vive, por isso mesmo, uma vez formados não conseguem questionar o superior hierárquico e/ou os mais velhos porque, tal como o professor, ele é quem manda e o que ele diz está dito e qualquer questionamento ou até defesa de uma tese contrária pode ser entendido como uma afronta, uma falta de respeito, com isso ganha-se a aversão à critica, ao questionamento ou a afronta de ideias e opiniões.
É importante romper-se o paradigma, é necessário deitar abaixo as barreiras físicas e mentais, é necessário que os professores e os gestores do subsistema do ensino superior e das distintas instituições do ensino superior se reinventem e possa de facto aterrar neste Século e preparar quadros para o futuro e não soldados letrados do passado que só serve para a história. É preciso que sejam formados jovens para a vida pensar diferente e ousado e ensinar os jovens a arte de saber viver, a arte de trabalhar em equipa, o voluntariado, é preciso formar quadro com vocação humanística, independentemente da especialidade, fomentar a produção de conhecimento útil à sociedade é preciso que os quadros sejam educados e treinados para a vida, para autossuficiência, para criarem oportunidades de investimento próprio e não transforma-los em pedintes de emprego e vocacionados em sem ideias próprias.
Por isso preferem definhar nos empregos, aturando chefes incompetentes e ingratos por terem medo do que os espera fora da empresa, têm pavor de um recomeço, apesar de excelentes qualificações têm medo de começar uma coisa própria ou juntar-se a iniciativas novas e desafiadoras, têm medo de inovar apesar de estarem revestidos de qualificações para o efeito, gente que tem capacidade de voar, mas contenta-se em rastejar porque a faculdade que lhes devia dar mais ousadia e treinar para a vida, formatou-lhe para o status quo e mediocridade.
Se não ousarmos em breve, seremos “re-colonizados” intelectualmente, pois outros virão ensinar-nos como se faz e cobrar-nos-ão a preço de diamante aquilo que os nossos quadros podem e poderiam muito bem fazer, criar e/ou desenvolver.
Somos uma sociedade com medo de ousar, com medo do desconhecido. É preciso compreendermos que Professor, gestor, decisor do Século XX, caso não façam um “ajornamento” estarão incapacitados de corresponder aos desafios das sociedades do Séc XXI e precisaremos de formações complementares para qualificar técnicos com pormenores que a faculdade lhes teria dado caso a visão e a missão fossem adequadas as necessidades deste Século. “Tudo vale a pena quando a alma não é pequena”.