Cronistas

Fake, Mad e Fuck News

A Comissão Europeia (CE) quer travar a propagação de notícias falsas através de plataformas digitais e apresentar os primeiros resultados desse trabalho já em 2018. A elaboração de uma estratégia europeia contra as Fake News, que a União Europeia como “desinformação intencional difundida através de plataformas online, meios de comunicação audiovisual ou imprensa tradicional”, conta com a colaboração de um grupo de peritos e com uma consulta pública. Após ter decidido criar um grupo de peritos de alto nível para apoiar no combate à desinformação online, a CE está a convidar especialistas a candidatarem-se para integrar este grupo.As Fake News têm sido um tema muito presente no Parlamento Europeu e discutido em todas as suas vertentes, sendo uma questão transversal e que abrange preocupações em várias comissões, desde a das liberdades cívicas e justiça, até às de segurança e defesa.
As notícias falsas não são propriamente novidade, sempre existiram notícias falsas ou manipuladas nos media. A desinformação e a propaganda existiam nos sistemas ditatoriais :Goebbels também colocou notícias falsas para inflamar sentimentos nacionalistas. Basta recordar o que o ministro da Propaganda de Hitler dizia : “as massas têm memória curta” e “uma mentira repetida mil vezes torna-se verdade”, e olhem que ele não tinha meios electrónicos sofisticados. Mas agora, o fenómeno ocorre em tempo de paz e em sistemas que se consideram democráticos. Com as novas tecnologias a manipulação de informação é mais rápida e massificada. “A tentativa de um Estado ou governo instrumentalizar as notícias a seu favor é antiga. Mas com as novas tecnologias as notícias falsas conseguem difundir-se tão rapidamente e de forma abrangente que se tornaram uma ameaça à democracia”, realça o jornalista Walter Dean. Portanto, o verdadeiro problema não está no meio mas sim na mensagem, as redes sociais vieram exponenciar um velho problema. É um problema de educação, de informação e de bom senso.
A atenção, o protagonismo é o recurso mais escasso pelo qual hoje todos competem.Vivemos hoje numa sociedade com muita informação e, ao mesmo tempo muito desinformada. Os cidadãos hoje ficam mal informados e os media sofrem uma espécie de concorrência desleal, perde o jornalismo, perde a democracia e os cidadãos. “Está a tornar-se cada vez mais difícil distinguir o falso do verdadeiro. São alegadas notícias redigidas com o propósito de desinformar. É diferente de um erro jornalísticos “, explica ainda Walter Dean.
 É que os jornalistas, aqueles que eram até então os “guardiões” que separavam a verdade da mentira, têm vindo a perder poder e importância, já não têm o monopólio da informação/ comunicação . Muitas vezes estas notícias falsas não nascem num blog, nem num site de Fake News. Por mais estranho que pareça elas nascem, são alimentadas e crescem na imprensa tradicional. Numa imprensa tradicional que em alguns casos, mente e omite, e sabe perfeitamente que está a mentir e a omitir . A forma como se alastram notícias falsas na imprensa é alarmante,e vamos muitas vezes assistindo uma espécie de “matrioska” de Fake News por certa imprensa .
O jornalismo como todas as áreas do conhecimento e do trabalho também têm os seus problemas e deficiências. É preciso defender, promover e estimular o bom jornalismo. As Fake News tornaram-se armas de arremesso. Não são apenas falsas, mas são inventadas para serem verossímeis, para confundirem e manipularem os mais distraídos ou menos atentos .Há momentos em que perceber o que é o acessório e o que é essencial fazem toda a diferença. Estamos num desses momentos no jornalismo angolano. O jornalismo é um serviço público e não pode, sob pretexto algum, deixar de ser um serviço público que interroga a realidade, que escrutina os poderes, que ajuíza facto, que busca o contraditório não se deixando contaminar pela primeira impressão.Um jornalismo que se deve sentir responsável e que deve saber que também pode ser responsabilizado. Um jornalismo que tenha a memória dos factos e protagonistas, que forme opinião na posse de uma informação com vários ângulos e perspectivas. Um jornalismo que prefira a plataforma de entendimento, de decisão e ponderação ao salve-se que e como puder.
“Nunca devemos esquecer que o jornalismo só tem poder se nunca se vergar aos poderes políticos, económicos, financeiros e sociais, formais ou informais vigentes, antes deles se mantendo distanciado e perante eles permanentemente crítico, se quiserem, sendo anti-poder neste sentido”, disse um dia aos jornalistas, Marcelo Rebelo de Sousa, Presidente de Portugal. Não podemos perder o fio da nossa história, mas tem de ser um novo começo. Temos de apontar pistas, caminhos e soluções. O jornalismo independente, credível, imparcial, isento, rigoroso e plural é também garante de uma sociedade democrática. Por isso tem de existir dignidade no jornalismo e respeito entre os jornalistas.
Para garantir a saúde da própria democracia, não nos podemos conformar com a degradação do jornalismo.Temos de estimular uma disciplina que análise e revele os mecanismos da manipulação informativa. Uma disciplina que nos obrigue a sermos correctamente deontológicos, que nos obrigue a sermos transparentes e que nos obrigue a sermos pluralistas. Mas mais do que tudo o resto, os jornais e jornalistas precisam de se focar numa coisa : reforçar o seu compromisso com a verdade, ou aliás, com as várias verdades que uma mesma realidade comporta.
Para quem quer fazer um jornalismo sério e ser levado à sério, as Fake News (notícias falsas), Mad News (criar factos negativos sobre pessoas com intenção de manipular o público ) ou as Fuck News (notícias para lixar, difamar e caluniar alguém), como os colegas do site Angonoticias fizeram no passado dia 06 de Junho, mencionando de forma abusiva, vil e caluniosa o meu nome,  a uma notícia com o título: ” TV Zimbo afasta jornalista por estar acima do peso”, não podem ser a verdadeira regra. Isto de uns jornalistas utilizarem as suas plataformas de comunicação para difamarem ou caluniarem,  outros colegas, não pode e não dever ser certamente considerado jornalismo. Serve para reflectimos sobre o caminho que um certo jornalismo e certos jornalistas estão a trilhar. Um jornalismo que em nome de certos  “cabritismos” está a criar entre nós certos “monstros das Neves”.

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