Governo angolano acusa Isabel dos Santos de reter dividendos da participação na Galp

A Sonangol diz que não tem registo de alguma vez ter recebido dividendos da petrolífera portuguesa da qual é accionista, através da Amorim Energia, que tem 33,34% da Galp.
O Governo angolano acusa a empresária Isabel dos Santos, também accionista da Galp e parceira da Sonangol na holding Esperaza, de ter retido esse dinheiro. Mas Isabel dos Santos disse, em resposta ao Expresso, que também nunca recebeu dividendos da Galp.
De 2006 ( altura em que o empresário Américo Amorim se tornou accionista de referência da petrolífera portuguesa, substituindo os italianos da ENI) a 2016, a Galp distribuiu 2,76 mil milhões de euros em dividendos, destes 973 milhões de euros foram entregues à Amorim Energia, uma holding controlada em 55% pela família Amorim e em 45% pela Esperaza, que por sua vez é detida pela Sonangol (60%) e por Isabel dos Santos (40%).
Recorde-se que entre 2012 e 2016 a Amorim Energia deteve 38,34%, voltando em 2016 a reduzir a sua participação para 33,34%, a venda rendeu-lhe 484,6 milhões de euros. Isso significa que indirectamente a Esperaza Holding BV terá recebido neste período 438 milhões de euros de dividendos relativos à Galp.
As contas da Esperaza Holding BV mostram que a sociedade reportou lucros de 64 milhões de euros em 2011 e de 41 milhões de euros em 2012. O último balanço que a empresa depositou na Holanda mostra que no final de 2016 a Esperaza contabilizava um activo de 985 milhões de euros ( o que significa que a Sonangol terá direito a 591 milhões de euros pelos seu 60%). Não é referido porém se foram distribuídos dividendos aos accionistas .
As preocupações de Saturnino
O assunto dos dividendos foi destapado pelo actual presidente do conselho de administração da Sonangol durante a sua recente deslocação a Portugal. Carlos Saturnino trouxe na bagagem duas preocupações: os resultados da sua parceria com a Galp no âmbito da Esperaza Holding e o futuro da petrolífera angolana no Banco Millennium BCP, onde é o segundo maior accionista com 19% do capital.
Depois do afastamento de Isabel dos Santos da Sonangol, onde era presidente do conselho de administração, a nova equipa de gestão constatou não haver registos nas suas contas dos dividendos inerentes à sua participação na Galp. Em causa estão cerca de 260 milhões de euros.
Isabel dos Santos, apoiada na fase inicial pela Sonangol para entrar no negócio da Galp, é agora acusada de ter retido, a favor da sua empresa, os dividendos pertencentes à petrolífera angolana.
” Depois do que aconteceu no sector mineiro com a Sodiam, chegou agora a vez de a Sonangol envolver-se numa batalha judicial para reaver os seus direitos. Uma situação que não vai deixar tranquilo o antigo Presidente de Angola e actual presidente do MPLA, José Eduardo dos Santos “, disse ao Expresso uma fonte da presidência angolana.
A questão que agora se coloca é a seguinte: onde param os 438 milhões de euros da Galp entregues à angolana Esperaza?
Fonte : Expresso.