
A Empresa do Caminho de Ferro de Benguela mandou suprimir todos os comboios de passageiros e mercadorias ao longo dos 1.340 quilómetros entre Lobito e Luau, entre 26 de Julho e 6 de Agosto, para nele poder circular em segurança um comboio turístico da empresa sul-africana Rovos Rail.
O anúncio do conselho de administração da empresa pública, a que o PÚBLICO teve acesso, explica apenas que o encerramento, durante 11 dias, da maior linha de caminho-de-ferro angolana se deve a “razões operacionais” e pede “a máxima compreensão a todos pelos transtornos que [esta medida] venha causar”.
O comboio turístico da Rovos Rail circula pela primeira vez em Angola num percurso inédito que teve origem na costa do oceano Índico, em Dar-Es-Salam (Tanzânia) e destino no Lobito, na costa atlântica de Angola.
De acordo com a agência Lusa, a maioria dos turistas são norte-americanos, australianos, belgas, neozelandeses, holandeses e sul-africano e pagaram pacotes turísticos entre 10.700 a 13.360 euros pela viagem, num comboio de luxo que inclui salões restaurante, carruagens panorâmicas e quartos com casa de banho privativa.
O comboio chegou ao Lobito no dia 30 de Julho, com 51 passageiros a bordo, depois de ter percorrido um total de 4.800 quilómetros em 18 dias, atravessando a Zâmbia e a República Democrática do Congo. Está agora a fazer o percurso inverso com nova leva de turistas.
Em Angola, o comboio passa por Luena (Moxico), Cuito (Bié e Huambo e é precisamente para manter a segurança de tão ilustre clientela estrangeira que a empresa pública ferroviária angolana não quis arriscar e mandou parar todos os comboios ao longo dos 1.340 quilómetros.
O caminho-de-ferro de Benguela foi recuperado após a guerra por empresas chinesas que se encarregam agora da manutenção da via. Mas têm-se registado alguns acidentes com choques frontais de comboios de passageiros e mercadorias com veículos ferroviários que fazem trabalhos na via férrea. Tais acidentes terão resultado do incumprimento das regras de circulação do tráfego ferroviário.
A exploração da linha, de via única, é feita em cantonamento telefónico, um sistema no qual os ferroviários, mas estações, pedem avanço à estação seguinte para que cada comboio possa avançar com via livre.
Mas, segundo o PÚBLICO apurou, foi já identificado um défice de cultura de rigor entre os profissionais, sobretudo entre as equipas de manutenção chinesas, que levou gestão a optar por uma medida radical a fim de proteger o comboio sul-africano
Fonte: PÚBLICO.