Há falta de técnicos de saúde e?…

Há 50 anos – no sábado, 20 de Julho, comemorou-se o cinquentenário – o Homem chegou à Lua.
Perguntar-me-ão, e com alguma pertinência, o que tem a ver a ida e alunagem do homem no satélite natural da Terra com os técnicos de saúde? Nada, e tudo!
Há 50 ano, como referia um astrofísico português, quer a nave espacial Columbia, tripulado por Michael Collins, quer o módulo lunar Eagle que levou Neil Armstrong e Buzz Aldrin, a produzir um pequeno passo para um Homem e um gigantesco passo/salto para a Humanidade, tinham, segundo os parâmetros de hoje, uns inconsequentes computadores mais fracos que qualquer dos smartphones – já para não falar em portáteis ou computadores – que hoje usamos.
E, ainda assim, foram lá, voltaram e só um objecto nunca identificado – pelo menos para os people cá do planeta azul – que atingiu o Apollo 13 é que fez calar – leia-se, parar – a continuação da ida do homem ao espaço ultra-sideral, ou seja, à Lua e confins. Ficámos (norte-americanos, russos, chineses e europeus) só pela Estação Espacial Internacional (ISS, na versão inglesa, ou MKC, na versão russa) entre a estratosfera e a mesosfera (ou ionosfera), ou seja, a cerca de 408 a 418 km de altitude da Terra!
Resumindo, há 50 anos, com poucas – segundo, repito e sublinho, os parâmetros técnicos de hoje – era possível sair da Terra e ir para o espaço.
Bom, estamos mais desenvolvidos tecnicamente, mas, ainda assim, falhamos. Ou não fossemos ser humanos. O maior falhanço, para nós, angolanos, claro, foi o AngoSat 1. Mas, se somos humanos, temos direito a falhar com questões materiais e técnicas. Ainda que não tenhamos sido nós, mas o construtor que, e só por acaso, é que mais fornece víveres à ISS. Mas enfim, humanum errare est…
Mas se em questões técnicas (de materiais) é natural e admissível o erro, desde que este não implique, sublinhe-se, vidas humanas, já erros, ou deficiências técnicas, por falta de pessoas qualificadas não é aceitável.
E, aqui, entre o paralelismo…
Hoje, ao fazer o zapping entre a RTP África e a TPA Internacional, nos noticiários da hora de almoço, esta última estava já dar uma reportagem na Lunda Norte sobre a falta e técnicos especializados na área da saúde.
E um dos factos que me chamou a atenção foi que num determinado hospital municipal só havia 1 (UM – em letra bem grandes) enfermeiro que exercia, na prática, 24 horas de apoio de enfermagem.
Além disso, queixava-se uma pessoa que envergava uma bata médica – penso que seria um ministrador ou médico hospitalar de um dos municípios contactados – que havia muita falta de técnicos de saúde (médicos, enfermeiros, técnicos de equipamentos, etc.)
Não é possível, num país que tem tantos médicos estrangeiros como cooperantes e – fala-se e escreve-se – várias escolas de enfermagem a nível nacional que as diferentes províncias sintam falta destes necessários técnicos de saúde.
Quem tem dinheiro, kumbu, kitadi, para mandar construir dois novos satélites espaciais, tem de ter dinheiro e condições para fomentar o ensino para novo médicos, enfermeiros e todos os técnicos de saúde que o País precisa.
Não é aceitável – e o Presidente João Lourenço já teve oportunidade de o verificar e verberar – que os nossos hospitais estejam nas condições que estão, com faltas de pessoal de saúde, falta de materiais de saúde, condições humanizadas de instalações e outos tais.
Esta notícia de hoje da TPA, por certos que deverá repetir à noite, tem de servir de alerta para o que não pode continuar a existir: falta de vergonha perante factos que, há 50 anos e nos parâmetros de hoje, seriam, na actualidade, impensáveis!
Não devemos, não podemos, continuar a ouvir estas lamentações: falta de técnicos de saúde!…
O Governo e o Ministério da Saúde têm de fazer alguma coisa pela saúde dos Angolanos! Se um bom livro é um princípio ensinativo para uma boa gestão da vida nacional, uma boa saúde é o principal princípio para um bem-estar social, uma boa saúde populacional e complementada ao ensino (leitura) para o desenvolvimento de uma Nação.
* Investigador do Centro de Estudos Internacionais do ISCTE-IUL(CEI-IUL) e investigação para Pós-Doutorado pela Faculdade de Ciências Sociais da Universidade Agostinho Neto**
** Todos os textos por mim escritos só me responsabilizam a mim e não às entidades a que estou agregado