Investimentos de Isabel dos Santos em Cabo Verde causam tensão política

O presidente cabo-verdiano, José Carlos Fonseca, e o primeiro-ministro, Ulisses Correia e Silva, estão em divergência devido ao financiamento de Isabel dos Santos à Universidade de Cabo Verde. A empresária angolana, através do programa “Bolsas de Mérito Isabel dos Santos”, vai pagar de forma integral as propinas e oferecer estágios curriculares na UNITEL+. Ela anunciou o programa durante a participação na Conferência sobre Empreendedorismo Jovem e Inovação, que decorreu no dia 10, na cidade da Praia. A iniciativa surge de uma estratégia para retirar espaço político e económico ao governo de João Lourenço onde for possível, custe o que custar. O financiamento à estabelecimentos de ensino começou em Londres, tento sido rejeitado devido à origem duvidosa do dinheiro, chegou agora a Praia, mas está desenhada para tocar outros países.
Esta situação está a afectar os corredores que ligam o governo à presidência cabo-verdiana, estando a se tornar cada vez mais pesado, diz-se que o tráfego está congestionado, tudo porque o primeiro-ministro Ulisses não consegue justificar ao presidente Fonseca as razões do espaço que continua a ser dado à Isabel, mesmo depois dos acontecimentos em Angola. Numa das conversas, Carlos Fonseca confessou a Ulisses Correia não ter nada contra as aplicações da empresária, mas não será bom para o nosso país confundir a relação com Angola. O primeiro-ministro respondeu que não teve um contacto directo com Isabel nem com alguém que a representasse para permitir que ela (Isabel) fizesse apostas mais sérias no nosso país.
As informações que chegaram ao conhecimento da presidência cabo-verdiana atestam que na cidade da Praia a empresária angolana tem as portas abertas para fazer o que achar mais conveniente, sem importar os laços com Angola nem a proveniência do dinheiro. Esta situação, além de irritar o presidente Carlos Fonseca, também está a dividir os membros do governo, porque alguns acreditam que Luanda vai ripostar na primeira oportunidade. O grupo de políticos que se mostra mais cauteloso quer um pronunciamento público sobre o assunto, para salvaguardar a relação com Angola e os cabo-verdianos residentes neste país irmão. O primeiro-ministro Ulisses referiu em reuniões separadas com ministros, o das finanças e o da cooperação internacional, que não incentivou o financiamento de Isabel dos Santos na Universidade de Cabo Verde, com o programa de bolsas de estudo, mas também não fez nada para o travar ou a avaliar se representava um risco para a política internacional do país.
Um oficial da inteligência cabo-verdiana confirmou nos canais de partilha de informação sigilosa, altamente protegidos, que travou uma acção dirigida a tornar público as divergências entre o palácio presidencial e o governo. Foi por pouco, disse o oficial. Referiu ainda, depois de uma conversa com um oficial de ligação próximo da secreta angolana, que a abertura oferecida à Isabel na Praia caiu mal ao governo angolano, e que agora temem por represálias. O oficial referiu-se ao seu “parceiro” da secreta como um oficial de diligências, especializado em rastreio de pistas confusas, que avançou informações comprometedoras sobre um grupo ligado à empresária angolana com a missão de desacreditar o governo angolano na CPLP, na SADC, em alguns países da União Europeia, com pouca solidez nas políticas de cooperação internacional, e nos países com possibilidade de ajudar Angola a consolidar a sua diplomacia enconómica.
A embaixada de Cabo Verde em Luanda está a juntar elementos para produzir um relatório sobre a situação em Angola para tentar esclarecer ao seu governo o risco de aceitar o dinheiro de Isabel. O embaixador está a conduzir os trabalhos e espera que o relatório possa fazer perceber em como será possível manter as relações económicas e comerciais com empresários que em Angola são encarados como sabotadores. Nessa altura, segundo a inteligência cabo-verdiana, que tem suporte operacional da União Europeia, enviou uma mensagem à sua similar angolana, a pedir contenção, mas não recebeu nenhum sinal. O presidente de Cabo Verde e o primeiro-ministro não desejam ser indelicado com a empresária Isabel, mas priorizam a relação com o Estado angolano. As informações de cortes na cooperação e a baixa de intensidade nas relações diplomáticas com Luanda estão a tirar o sono na cidade da Praia.
Altas figuras do Estado cabo-verdiano confirmam os relatos de que em Luanda, mesmo na Praia, os governantes estão a ser encarados como traidores do povo angolano e de apunhalar o Presidente João Lourenço. É esta a pior parte na novela Isabel, que leva dinheiro aos cabo-verdianos, depois de tirar aos angolanos.
Fonte: Adelaide Tavares /Jornalista de investigação