
Depois de ter retirado a sua participação na construção da Barragem de Caculo Cabaça e do Porto de Dande, o afastamento de Isabel dos Santos do projecto da Marginal da Corimba (através da Urbinvest e da Landscape) abre um novo capítulo na “guerra” que opõe o clã dos Santos ao Presidente João Lourenço .
Apesar deste revés, a empresária angolana não baixou os braços e não vira as costas ao mercado angolano. Está agora envolvida num vasto plano de expansão da rede das lojas Candando, multiplicando emprego para os jovens.
“Acaba de inaugurar o mais moderno estúdio de televisão em Angola, que mete no chinelo o estúdio da TPA e apostou também já na criação da Zap Internacional com emissões para Portugal e Moçambique”, revelou ao Expresso fonte do grupo de Isabel dos Santos.
Não há dúvida, porém, que o seu afastamento do projecto da Marginal da Corimba inicialmente estimado em 1.205 milhões de dólares, continua a provocar ondas de choque.
A decisão de João Lourenço, que, neste negócio, acusa a filha do seu antecessor de prática de sobrefacturação, ocorre um mês depois de José Eduardo dos Santos, em audiência privada, lhe ter atribuído a responsabilidade pelo “exílio forçado” de parte da família.
Isabel dos Santos, Tchizé dos Santos e a tia Marta dos Santos, aconselhados por José Eduardo dos Santos, encontram-se há já largos meses a residir no estrangeiro.
João Lourenço refutou as críticas alegando que elas saíram de Angola voluntariamente, e que Isabel dos Santos se tem furtado a regressar ao país para, perante as autoridades judiciais, defender as acusações por si apresentadas contra o ex-presidente da Sonangol, Carlos Saturnino.
Mas na esteira da cruzada contra a corrupção levada a cabo pelo seu sucessor, José Eduardo dos Santos não deixou de se queixar de estar hoje a ser apelidado de “ladrão” por muita gente do próprio partido.
“Mas olhe que não há, ao nível do meu Executivo, quem o tenha acusado de ladrão, mas nem eu nem ninguém têm hoje capacidade para controlar as redes sociais”, respondeu João Lourenço.
A radicalização de posições políticas assumidas por Tchizé dos Santos, que reivindicou um processo de impeachment contra João Lourenço , poderá contribuir para o aumento da tensão entre o antigo e o novo Presidente, segundo alguns analistas ouvidos pelo Expresso.
O secretário para a Informação do MPLA, Paulo Pombolo, qualificou como “graves” as declarações de Tchizé dos Santos. No seio do MPLA já várias vozes se erguem contra a manutenção da deputada na cúpula do partido e no Parlamento, não apenas por causa do seu posicionamento político mas devido à prolongada ausência do país sem quaisquer justificações.
João Lourenço preferiu ignorar o que alguns dos que o apoiam qualificam como “uma provocação de mau gosto”, remetendo-se ao silêncio. Enquanto isso, preparou terreno para voltar a desferir novos golpes a alguns actos de gestão do seu antecessor considerado lesivos dos interesses do Estado.
Primeiro começou por colocar à venda em hasta pública dois aviões do tipo Boeing 707-300 e 700-200 afectos aos serviços auxiliares do antigo Presidente.
“Era um desperdício tê-los parqueados no Terminal Aéreo Militar há mais de 10 anos sem qualquer utilização e com custos onerosos para o Estado devido à sua inoperância”, disse ao Expresso fonte dos serviços aeronáuticos.
Agora chegou a vez de estender a sua acção à última adjudicação feita por José Eduardo dos Santos à filha. Avaliados os contornos da entrega do projecto da Marginal da Corimba a duas empresas de Isabel dos Santos, o Presidente decidiu afastá-las, ordenando ao Ministério da Construção e Obras Públicas “a renegociação dos contratos assinados e adjudicados por José Eduardo dos Santos a 25 de Maio de 2016”.
Isabel dos Santos rejeita as acusações sustentando que o consórcio que era liderado pela Urbinvest apresentou “níveis de preços mundialmente aceitáveis” equiparadas aos praticados em “projectos semelhantes no novo Porto do Qatar, na Ilha Jumana, no Dubai, ou em Pluit City, na Indonésia”.
Contrariando essa tese , o ministro da Construção e Obras Públicas , Tavares de Almeida, exibiu uma factura no valor de 382 milhões de dólares correspondente a uma alegada sobrefacturação atribuída às empresas de Isabel dos Santos.
Fonte: Expresso.