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Isabel dos Santos perde poder na Unitel

Foram precisas oito horas de reunião para concretizar a mudança que marca uma nova era na governação da Unitel, a líder das telecomunicações móveis em Angola.

Uma era em que o papel de Isabel dos Santos, fica reduzido ao de accionista representada na administração, mas sem capacidade de interferência na gestão.

Numa longa assembleia-geral em Luanda, na terça-feira, na qual Isabel dos Santos participou telefonicamente, ganhou forma o novo conselho de administração da Unitel, que deverá entrar em funções a 6 de Maio.

O novo conselho de administração ainda não tem presidente (que será escolhido posteriormente), mas ficou já decidido que o cargo deixará de ser ocupado por Isabel dos Santos, que tem 25% da empresa (através da Vidatel) e já estava em litígio aberto com a PT Ventures (detida pela brasileira Oi, com 25% do capital), e também entrou em rota de colisão com a Sonangol, a petrolífera estatal angolana, que tem outros 25% do capital.

Isabel dos Santos não só perdeu a liderança do conselho de administração da Unitel, mas viu também serem afastados dois administradores que eram da sua confiança e estavam em lugares-chaves na gestão : Antony Dolton, que era o director-geral, e Diogo Santa Marta, com o pelouro financeiro.

Isabel dos Santos também teve que aceitar que a PT Ventures (PTV), que há anos estava arredada da gestão, passasse a ter a maioria dos membros no conselho de administração ( o acordo entre accionistas prevê que a PTV nomeie a maioria dos administradores e o director-geral).

Assim, para a nova administração transitaram Isabel dos Santos e Amílcar Safeca (representante da Geni, sociedade controlada pelo general Dino, que tem os restantes 25% da Unitel), e entram João Boa Quipipa (assessor do Ministério das Finanças e representante do accionista Estado), e Luís Rosa e Miguel Geraldes, ambos indicados pela PTV/Oi.

O português Miguel Geraldes será o novo director-geral da Unitel. O ex-quadro da PT que foi liderar a MTC quando a antiga operadora entrou no mercado namibiano é actualmente consultor da chinesa Huawei na África do Sul.

“Tenho conhecimento do profissionalismo da equipa da Unitel e certamente encontraremos a melhor forma de termos uma transição suave mantendo o foco no que é importante: servir os angolanos”, afirmou o gestor , numa declaração à Lusa.

À recomposição do conselho de administração ( que pôs fim a um impasse que se arrastava desde o início de 2018, e que tinha de um lado a Vidatel e a Geni e, de outro, a Sonangol e a PTV) não foi alheia a vitória obtida pelos brasileiros no processo arbitral em Paris (iniciado em Outubro de 2015).

Na decisão (anunciada no final do mês passado), o tribunal declarou que os sócios angolanos da Unitel têm de pagar à PTV/Oi um valor superior a 600 milhões de euros (referentes a dividendos em falta e a compensação pela desvalorização da participação na Unitel) e deixou claro que, à luz do acordo de accionistas , os direitos da sociedade que pertencia à antiga PT não estavam a ser respeitados : além de estar impedida desde 2006 de nomear a maioria dos membros do conselho de administração, desde 2014 que não conseguia nomear qualquer representante.

Ironicamente, enquanto o processo de Paris foi entrando na recta final, a própria Sonangol (que entre Junho de 2016 e Novembro de 2017 foi presidida por Isabel dos Santos) começou a bater-se, sem sucesso, pelo direito a ter a sua subsidiária, a Mercury, representada na administração da Unitel.

Com a assembleia-geral da passada terça-feira, a gestão da Unitel assume uma nova rota, em que as diferenças entre a Oi e a Sonangol parecem ultrapassadas : no mês passado, a MSTelcom (empresa da Mercury) pôs-se ao lado da PTV e acusou a Geni e a Vidatel de “conduta ilegal”, por a impedirem , e à PTV, de nomear administradores.

Enquanto a Oi (que está em processo de recuperação judicial) mantém a participação na Unitel entre os activos disponíveis para venda, a Sonangol também já deu sinais de que, no futuro, irá desfazer-se desta posição. Em Novembro, o líder da petrolífera, Carlos Saturnino, afirmou que a companhia quer concentrar-se nas actividades estratégicas e que irá vender participações nas telecomunicações e na banca.

E, já em Fevereiro, sublinhou que a prioridade antes de vender seria “chegar a um acordo” para os órgãos sociais, para defender “muito bem” os interesses do Estado angolano. Tendo a Unitel quatro accionistas , não era aceitável que um deles tomasse “decisões à revelia e de forma unilateral”, afirmou.

Com este obstáculo em vias de ficar ultrapassado, resta saber qual será a estratégia que angolanos e brasileiros definirão em conjunto para o futuro da Unitel.

Fonte: PÚBLICO.

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