Eugénio Costa AlmeidaOpinião

João Lourenço no Parlamento Europeu

O Presidente João Lourenço, foi o primeiro presidente angolano a discursar no Parlamento Europeu, a Casa da democracia Europeia, facto ocorrido na passada quarta-feira, 4 de Julho de 2018, por acaso um dia importante na afirmação da liberdade os Povos, por ser o Dia da Independência da principal democracia mundial (ainda que, recentemente, esta parece estar um pouco distante deste País…).

Sendo que o Parlamento Europeu (PE) foi fundado em Setembro de 1952, e que desde 2009, se tornou, de facto, num local legislativo dos mais poderosos do Mundo, é estranho que, só agora, um presidente angolano. Mas, isto levar-nos-ia a outras malambas que agora não interessam.

Há quem tenha ficado um pouco desiludido com as palavras do Presidente João Lourenço em Estrasburgo.

Pessoalmente, também esperava um pouco mais que uma pequena lição sobre o que somos, o que temos estado a fazer, o que lideramos, as nossas relações regionais; tudo isso os parlamentares europeus podem, facilmente, e se quiserem ler numa qualquer página de recolha de dados, seja o Google, o Yahoo ou o MSN.

Esperava mais do que o Presidente e o seu Executivo desejam fazer no futuro, nas relações com os principais parceiros políticos e económicos não-africanos, no caso, europeus; e não esqueçamos, que, ainda recentemente, João Lourenço esteve na França, na Bélgica a tratar de captar investimentos e know-how económicos e financeiros, destes para ajudar Angola a se desenvolver, pelo que seria interessante ver o que o e como o PE receberia essas informações.

É certo que João Lourenço, em cerca de 20 minutos, fez uma apresentação calma e serena do que fomos e estamos agora a tentar ser. Como venda de uma imagem quase turística, creio que surtiu efeito. Mas não era – é – isso que queremos.

Também é verdade que, João Lourenço, pediu à União Europeia que esta nos ajude a suplantar «”os constrangimentos” que impedem a colocação da economia ao serviço do “desenvolvimento, do progresso e do bem-estar das populações”».

Um bom e sincero pedido se não estivesse numa casa onde os anticorpos contra Angola e uma certa apatia que ainda temos face a uma plena representatividade política, jurídica e económica, são bem evidentes, sejam entre a extrema-esquerda, sejam entre a extrema-direita e, mesmo, entre conservadores.

Nem mesmo, a “verdadeira cruzada contra a corrupção e a impunidade em toda a sociedade” parece demover estes grupos parlamentares. Talvez esperassem que Angola não fosse Roma ou Pavia e tudo se fizesse num dia…

De qualquer forma, se a UE nos quiser ajudar a ultrapassar estes constrangimentos, o pedido está feito. E podem, também, ganhar com isso…

Outro facto que alguns analistas, que já falei e li, nomeadamente africanos – ainda que, na essência, as palavras de João Lourenço, mais não transmitiram que uma grave realidade –, criticaram ou, pelo menos, não esperavam ser ditas como foram, prendeu-se com a questão da migração africana para a Europa.

Realmente, todos abemos que são inúmeros os factores que levam a essa forçada – a maioria – migração para o mais próximo continente de África, nas palavras de João Lourenço. Mas…

Mas sublinhar o óbvio, em que estão «em fuga de conflitos armados, fome e miséria, desemprego e falta de perspectivas, “e todos somos responsáveis por este quadro com que muitos países africanos se confrontam”» é mostrar que a chuva, choveu e o capim está molhado.

Precisamos mais, ou precisávamos que João Lourenço dissesse muito mais. Qua a Europa deve transferir muita do seu know-how para o Continente, deixar de produzir nas férteis terras africanas aquilo que ela já não consegue produzir e pagar pouco ou muito pouco – ganhando, depois, muito quer dos seus consumidores, quer da sua reexportação, que pague aos funcionários e camponeses o justo valor pelo seu trabalho para não terem de fugir à procura de melhores condições de vida, que deixe e apoiar déspotas e autocratas que mais não querem do que ficar com o pouco que a Europa – ou certos países europeus – lhes dá para distribuírem e eles ficarem com esse pouco, dando, quando dão, migalhas aos seus Povos, apoiar organizações militarizadas que pensam poder lhes dar mais vantagens dos que já lá estão, etc.

É que pagar aoa Países africanos – como fizeram no passado com a Líbia de Kadhafi, o que estão a fazer com a Turquia de Erdogan –, já mostrou que não é política certa. E a prova disso, é que os líderes dos países do Norte de África já recusaram serem locais de centros de acolhimento como propôs, recentemente, a UE para sossegar os dirigentes europeus mais populistas.

A Europa, tal como fez com os Estado-aderentes à UE deve – tem – de abrir os cordões da bolsa para ajudar – directamente e sem interferência de terceiros locais – os países africanos menos desenvolvidos e colaborar mais com os mais desenvolvidos ou que tenham melhores ou emergentes condições económicas.

Não queremos ser Tigres – alguns destes asiáticos sobreviveram, outros não – mas sim Povos e Países livres, não-pobres, e com um desenvolvimento médio que ajude a viver, com todas as condições básicas, os nossos Povos.

Era isso, foi uma oportunidade, que João Loureço talvez não tenha sabido explorar.

Foi uma primeira visita, talvez a próxima seja muito melhor e não se fique por uma interessante – e oportuna, reconheça-se – menagem de «uma verdadeira cruzada contra a corrupção e impunidade, em toda a sociedade, com destaque para os chamados crimes de colarinho branco». O enfrentar que a eurodeputada Ana Gomes lhe fez, no final e com pertinência, sobre Rafael Marques, mostrou que, apesar de tudo, ainda não estamos num patamar que nos permita dizer aquelas palavras sem um bom e difícil contraditório.

Em qualquer dos casos, sublinho, encheu-me e orgulho ouvir o Presidente João Lourenço discursar, e sem tibieza, no Parlamento Europeu!

Tenho a certeza que o próximo discurso – e acredito que haverá mais o PE – não falará tanto sobre o que é Angola, mas mais o que queremos que Angola, a Europa e África possam fazer um pelos outros e como queremos que seja feito!

*Investigador do Centro de Estudos Internacionais do ISCTE-IUL(CEI-IUL) e Pós-Doutorando da Faculdade de Ciências Sociais da Universidade Agostinho Neto**

** Todos os textos por mim escritos só me responsabilizam a mim e não às entidades a que estou agregado

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