Cronistas

Joaquim Pinto de Andrade em Livro*

O ilustre nacionalista angolano, Joaquim Pinto de Andrade,  falecido em 2009, apareceu agora em livro que foi publicamente apresentado no passado dia 8 no auditório da Feira do Livro de Lisboa. A sala estava cheia de gente onde predominavam angolanos de várias gerações: alguns ainda sobreviventes da geração do início da luta pela independência: Luandino Vieira, Luís de Almeida, Arnaldo Santos, Juju, Elsa Almeida e eu próprio, mas, sobretudo, é de registar a presença de jovens, alguns fazendo os seus estudos superiores em Portugal. Foram oradores o editor, José Ribeiro, Diana Andringa, Adolfo Maria, Mário Brochado Coelho, Ondjaki e Djamila e Amílcar Andrade (filhos do homenageado).

O livro editado pela “Afrontamento”, Joaquim Pinto de Andrade – uma quase autobiografia, é uma publicação resultante do incansável esforço de recolha documental feito pela mulher de Joaquim, a Tó, e coroado com o precioso trabalho final executado pela Diana Andringa, dando-nos uma obra onde impera o rigor.

Estamos perante uma bem conseguida ordenação de assuntos, com o necessário enquadramento sociológico e político, e uma fluente escrita que nos empurra a seguirmos, com avidez, a vida de Joaquim desde a infância, as suas opções, o seu modo de estar e ser.

Numerosos documentos ilustram a porfiada luta de Joaquim Pinto de Andrade pela independência e dignidade do povo angolano, nomeadamente o corajoso combate contra a tenebrosa polícia do regime salazarista, a PIDE, e depois pela democracia no seio do MPLA e em Angola. Discursos, cartas e comunicações do Joaquim aqui publicados revelam a sua erudição e cultura  (Joaquim Pinto de Andrade, padre quando foi preso, era formado em Filosofia e Teologia, dominava sete línguas: latim, italiano, francês, inglês, alemão, kimbundu e português.

A riqueza documental do livro revela-nos também a complexidade do nacionalismo angolano, as múltiplas formas do combate clandestino à dominação colonial portuguesa, o papel de parte da igreja católica de Angola nesse combate e as solidariedades com  Joaquim Pinto de Andrade e a sua luta. Desfilam significativos momentos e personagens da contemporânea história de Angola através de relatórios da PIDE, cartas, discursos, entrevistas e comunicações de Joaquim, testemunhos sobre ele, fotos.

Nesta obra de cuidada edição: Joaquim Pinto de Andrade – uma quase auto-biografia, acompanhamos o exaltante percurso deste nacionalista angolano, um humanista e incansável combatente da liberdade, que tem craveira universal, mas que está pouco presente na historiografia angolana e é ignorado ou minimizado pelas várias histórias oficiais: a do MPLA e a de Angola.

Tem de ser corrigida esta injustiça histórica que resulta da postura de exclusão – que sempre caracterizou o poder político angolano desde a independência – e da subserviência ou parcialidade política de vários intelectuais. Assim, factos históricos têm sido omitidos ou deturpados, personalidades históricas são esquecidas ou vilipendiadas através dum criminoso trabalho de construção do esquecimento.

Cabe às actuais e futuras gerações angolanas realizar o combate para se promover a reconciliação com a história. É urgente que essas gerações se empenhem no estudo dos factos e vultos que foram fundamentais na conquista da independência e no desbravar do caminho para um país democrático que a todos devia proporcionar liberdade e um viver com dignidade.

(*) este texto foi elaborado utilizando várias transcrições da minha intervenção na sessão de apresentação do livro Joaquim Pinto de Andrade – uma quase autobiografia

     

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