Eugénio Costa AlmeidaOpinião

Maio, o mês de Africa; ainda será?

Entrámos no que se convencionou chamar do mês de África, tudo, porque, como se sabe, a 25 de Maio celebra-se o Dia de África, o dia em que Chefes de Estado e de Governos de 32 países africanos, em Adis-Abeba, Etiópia, fundaram a sua primeira organização multinacional, a Organização de Unidade Africana.

É, também, e como recordou Jonuel Gonçalves no seu artigo semanal, o mês que se rememora a revolta estudantil de uma certa esquerda anarquista em França visando uma reforma do sector educacional e que teve seguimento nas greves operárias em apoio às reivindicações estudantis; um protesto com repercussões em muitos países europeus, e, nomeadamente, nas antigas colónias africanas francesas. Este é o mês que se celebram 50 anos dessas revoltas que começaram anarcas e acabaram por ser o princípio de um novo paradigma social e político na Europa actual; ainda que esta, mais que pareça estar a caminhar – ou a precisar – para um novo levantamento social e político…

Mas como estamos no mês de África e como africanos que somos, falemos neste mês, onde, por norma, predominam frases bonitas sobre o continente e sobre esta efeméride. Pena, é continuarmos a nos esquecer de outros meses, onde, talvez, fosse mais necessário falar, debater, trabalhar por e para África

O mês onde se falam, se debatem, se criticam os neocolonialismos económicos, políticos, culturais no Continente, mas que, nos outros meses, não poucas vezes, somos os primeiros a incentivar e aplaudir esses mesmos neocolonialismos e neoimperialismos.

Como em tempos escrevi no meu blogue, Pululu; estamos num Mundo que caminha, de novo, para um período de falta de alimentos não por causa de secas ou catástrofes naturais – quer parecem voltar com alguma força –, mas porque os Homens (será mesmo em maiúsculas?) querem ganhar milhões e Países persistem em mostrar a sua não autodependência e autocapacidade de subsistência energética não produzindo cereais e leguminosas para comer, mas para criarem biocombustíveis.

E esses países e peseudo-homens de negócios continuam a ver África como um continente produtivo para esses fins, devido à sua extensão e à capacidade de alguns dos seus dirigentes em conseguirem alargar os seus bolsos à custa do bem-público e do seu povo!

O Homem e a sua proverbial capacidade para se auto-destruir

E por causas destas que continuo a questionar se, será que ainda temos fundamentos para considerar Maio como o mês de África? Haverá razões intrínsecas, claras e objectivas para continuarmos a clamar por Maio como o mês do Continente que gerou e humanizou todos os outros?

Eu quero continuar a acreditar que sim!

É que apesar disto, e ainda que o dia, o mês, de África não sejam, bem pelo contrário e cada vez menos, dados à poesia, prossigo a eleger e recordar este período citando, este poema de uma autora e poeta angolana que, alguns patenteiam em a esquecer por ela não ter preferido pegar na sua arma preferida – a medicina – para ajudar o seu Povo, melhorando a sua qualidade de vida e de saúde, do que andar a matar ou ficar pelas cidades do exterior debitar palavras que, se bem que incentivadoras para os que estavam no terreno a lutar pela Libertação Nacional, muitas vezes soavam amorfas e de quem estavam calmamente sentados no respaldo de uma cadeira baloiçante…

Presença Africana (de Alda Lara)

E apesar de tudo, //ainda sou a mesma! // Livre e esguia, // filha eterna de quanta rebeldia // me sagrou. // Mãe-África!

Mãe forte da floresta e do deserto, // ainda sou, // a irmã-mulher // de tudo o que em ti vibra // puro e incerto!…

A dos coqueiros, // de cabeleiras verdes // e corpos arrojados // sobre o azul…

A do dendém // nascendo dos abraços // das palmeiras…

A do sol bom, // mordendo //o chão das Ingombotas

A das acácias rubras, // salpicando de sangue as avenidas, // longas e floridas… // Sim!, ainda sou a mesma.

A do amor transbordando

pelos carregadores do cais // suados e confusos, // pelos bairros imundos e dormentes // (Rua 11…Rua 11…)

pelos negros meninos // de barriga inchada // e olhos fundos…

Sem dores nem alegrias, // de tronco nu e musculoso, // a raça escreve a prumo, // a força destes dias… // E eu revendo ainda // e sempre, nela, // aquela //longa historia inconsequente…

Terra! //Minha, eternamente…

Terra das acácias, // dos dongos, // dos cólios baloiçando, // mansamente… mansamente!…

Terra! Ainda sou a mesma!

Ainda sou // a que num canto novo, // pura e livre, //me levanto, //ao aceno do teu Povo!…

*Investigador do Centro de Estudos Internacionais do ISCTE-IUL(CEI-IUL) e Pós-Doutorando da Faculdade de Ciências Sociais da Universidade Agostinho Neto**

** Todos os textos por mim escritos só me responsabilizam a mim e não às entidades a que estou agregado

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