
Milhares de pessoas juntaram-se na manhã desta segunda-feira, 13, em Kinshasa e noutras cidades congolesas para protestar contra a nomeação do presidente da Comissão Eleitoral, obrigando a polícia a usar gás lacrimogéneo para dispersar os manifestantes.
De acordo com a agência de notícias AFP, os manifestantes foram liderados por um dos chefes da oposição na República Democrática do Congo (RDC), Jean-Pierre Bemba, que se juntou aos protestos que acontecem quatro dias depois de confrontos que mataram cinco pessoas.
A manifestação de hoje, como outras, foi proibida pelas autoridades, que usaram gás lacrimogéneo para dispersar os manifestantes convocados pela coligação da oposição, Lamuka, em comícios realizados nas cidades de Bukavu, no Leste do país, e em Kananga, no Centro.
Em causa está a nomeação de Ronsard Malonda, actual secretário executivo da Comissão Eleitoral Nacional Independente (CENI), para a presidência do órgão, encarregado de organizar as próximas eleições, previstas para 2023.
Após as eleições presidenciais de Dezembro de 2018, a Lamuka reivindicou a vitória do seu candidato, Martin Fayulu. Os líderes da Lamuka acusam o candidato proposto, e aprovado pela Assembleia Nacional congolesa, de ter “contribuído para todos os bloqueios eleitorais desde 2006.”
O Comité Laico de Coordenação (CLC, próximo dos católicos) e movimentos civis, por outro lado, pediram “uma grande marcha pacífica de protestos” dia 19 de Julho.
No sábado (11/7), a marcha que reuniu centenas de pessoas foi dispersada pelas forças de segurança à chegada ao parlamento. A União para a Democracia e o Progresso Social (UDPS), do Presidente do país, Félix Tshisekedi, já tinha convocado os apoiantes para uma manifestação na quinta-feira (9/7).
Após a aprovação pelo parlamento congolês na passada quinta-feira, a decisão deve agora ser enviada ao chefe do Estado.
A escolha de Malonda suscitou também algumas reacções menos positivas entre duas das principais religiões do país – a católica Conferência Episcopal e a protestante Igreja do Cristo do Congo -, que se opõem publicamente à escolha.
“Estas duas igrejas, que representam 80% da população congolesa, disseram não à nomeação de uma figura que já deu provas de fraude eleitoral”, afirmou o arcebispo de Kinshasa, o cardeal Fridolin Ambongo, na semana passada.
Entre as organizações não-governamentais pró-democracia, a nomeação de Malonda, que integrava a estrutura do presidente cessante, Corneille Nangaa, é vista como “uma provocação”.
“A linha vermelha acabou de ser ultrapassada”, afirmou Carbone Beni, líder do movimento Filimbi, que esteve preso durante um ano por ter exigido eleições quando o antigo Presidente Joseph Kabila se matinha no poder após o fim do mandato.
As eleições acabaram por se realizar em Dezembro de 2018, após vários adiamentos e depois de Kabila ter sido sujeito a múltiplas pressões para deixar o cargo.
Apesar da vitória do candidato adversário Félix Tshisekedi, o partido de Kabila manteve uma maioria parlamentar, nuns resultados que foram contestados pela oposição e pela Igreja católica. Desde então, a RDC tem sido governada por uma coligação composta pelas forças de Tshisekedi e de Kabila.