
“Quero limpar a minha imagem”.
Foi nestes termos que, ao Expresso, Manuel Vicente, ex-vice-presidente de Angola, reagiu à sentença proferida pelo Tribunal Central Criminal de Lisboa, que o acusa de ter corrompido o procurador Orlando Figueira.
Com o processo transferido para Luanda (facto que desanuviou o “irritante” nas relações diplomáticas com Portugal), o antigo homem-forte da Sonangol mostra-se agora disposto a colaborar com a Justiça angolana para “pôr tudo em pratos limpos” por estar inconformado com a decisão do tribunal português.
Apesar de gozar de imunidade, Manuel Vicente não se oporá a que o Tribunal em Luanda dê início à instrução preparatória do processo para, “o quanto antes, apurar todas as responsabilidades e ficar tudo esclarecido”.
O Presidente, João Lourenço, durante uma conferência de imprensa, atribuiu sexta-feira à Justiça angolana a prerrogativa de levantar a imunidade a Manuel Vicente e rejeitou qualquer tipo de protecção especial à figura do antigo vice-presidente.
Carlos Feijó, jurista reputado e membro da cúpula do MPLA, defende uma via expedita para pôr fim a este processo e sustenta que “o problema deve ser apreciado e encerrado agora em Angola”.
“Apesar de a Constituição dizer que ele [Manuel Vicente] só pode ser julgado cinco anos depois de cessar funções por crimes cometidos no exercício das mesmas, isto não impede que a instrução preparatória e outras diligências sejam feitas”, explica o jurista angolano.
Carlos Feijó entende, porém, que “esperar cinco anos, sujeitando-se a pressão, não será bom nem para o visado nem para o país”.
Mostrando-se indignado por estar associado à condenação de um procurador que “não conhece nem nunca viu”, Manuel Vicente reafirmou que, da sua conta ” não saiu um tostão para pagar quem quer que esteja envolvido nesse processo”.
O antigo governante, actualmente deputado pelo MPLA, nega também qualquer ligação da Primagest, o veículo alegadamente utilizado para contratar Orlando Figueira, à Sonangol.
“As contas da Sonangol foram auditadas e não consta em nenhum momento que a Primagest faça parte da petrolífera”, garante.
A Sonangol já tinha acusado o tribunal de Lisboa de mentir, noticiou o Expresso na última edição.
Manuel Vicente e o repatriamento dos seus capitais
Antecipando-se, entretanto, ao pedido feito pelo Governo de repatriamento de capitais saídos ilicitamente de Angola, o antigo presidente da Sonangol revelou ao Expresso que a “quase totalidade do dinheiro que detinha no estrangeiro já está em Angola”.
Este movimento foi iniciado ainda na vigência da governação de José Eduardo dos Santos, depois de as autoridades norte-americanas terem posto em causa os avultados depósitos feitos por entidades angolanas no banco Bai Cabo Verde.
“Estou a fazer vários investimentos em Angola no domínio agropecuário, e na área petrolífera estou a prestar consultoria no estrangeiro a várias entidades “, disse Manuel Vicente.
Com esta decisão, Manuel Vicente fica a salvo de qualquer investida coerciva que as autoridades angolanas se preparam para desencadear a partir do dia 26 de Dezembro, quando expirar a data para o cumprimento voluntário de repatriamento de capitais.
“Quem não o fizer arrisca-se a comparecer em Tribunal”, advertiu João Lourenço.
Fonte: Expresso.