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Marcelo patrocina “cimeira de paz” entre Lisboa e Luanda

As visitas de alto nível entre Portugal e Angola continuam congeladas, a aguardar que o Tribunal da Relação de Lisboa decida sobre o envio ou não do processo contra Manuel Vicente para Luanda, mas o Presidente de Angola deu luz verde para que o Governo angolano se faça representar no megaencontro de empresários dos dois países que decorrerá em Lisboa no próximo dia 27 de março.

João Lourenço enviará um ministro (Economia? Finanças?). António Costa corresponde com a presença de um ministro português. E Marcelo Rebelo de Sousa fará o discurso de encerramento.

O tema é o óbvio no actual contexto de tentativa de desanuviamento nas relações bilaterais “Portugal/Angola – Uma aposta de futuro” e a organização do evento, que nasceu de conversas entre alguns players do poder económico dos dois países, com o discreto mas empenhado patrocínio dos dois Chefes de Estado, está a ser preparado há dois meses.

Oficialmente, quem promove a conferência é a Câmara de Comércio Portugal -Angola, que conta entre os seus associados com mais de 200 empresas dos mais diversos sectores, mas a ideia e os primeiros passos surgiram no início do ano, quando a tensão política Luanda/Lisboa estava ao rubro com a proximidade do início do julgamento em Portugal do ex-vice-presidente de José Eduardo dos Santos. A presença de João Lourenço em Davos, no Fórum Económico Mundial, foi aproveitada para contactos ao mais alto nível por parte de personalidades portuguesas com peso nas relações bilaterais.

Durão Barroso e José Luís Arnaut (ex-governantes do PSD com boas relações com Angola e actuais altos quadros do Goldman Sachs, que integra o consórcio bancário a quem Luanda entregou a emissão de dívida pública) falaram com o Presidente angolano em Davos. Paulo Portas esteve com ele em Luanda. E a ideia de movimentar a sociedade civil, em defesa da relação económica transversal que toca milhares de pessoas e muitas empresas dos dois lados, foi posta em marcha . À Deloitte foi pedido um estudo sobre o impacto da relação económica bilateral e o resultado será apresentado no encontro que decorrerá no Hotel Epic Sana, em Lisboa.

O presidente da Câmara de Comércio antecipa que o estudo “demonstra o elevado nível de comprometimento das empresas e das instituições dos dois países no futuro, na confiança mútua e no desejo de um caminho que possa trazer progresso e desenvolvimento aos povos angolano e português”. João Luís Traça sublinha que existindo a Câmara de Comércio “para ajudar a criar oportunidades às empresas”, decidiu promover a conferência “por acreditar no futuro das relações económicas bilaterais e nas vantagens mútuas do seu aprofundamento”.

Separar águas

Em janeiro, quando se encontrou em Davos com o Presidente angolano, o primeiro-ministro português começou o trabalho de separar as águas entre o imbróglio político/jurídico em torno do caso Manuel Vicente e o resto. António Costa falou de “relações de excelência” entre os dois países, que “felizmente decorrem muito bem dos pontos de vista económico, cultural e entre os nossos povos”. E admitiu haver “uma só questão, que não depende dos poderes políticos e que decorre exclusivamente da responsabilidade das autoridades judiciárias”, que tem como consequência “não haver visitas de alto nível de uns e outros aos respectivos países”.

Marcelo Rebelo de Sousa, que quando esteve em Luanda na posse de João Lourenço ouviu o PR angolano riscar Portugal da lista dos países “importantes” para Angola, apagou essa mancha e foi reafirmando que a relação bilateral “não podia ser melhor “.

Oficialmente o Presidente português, Marcelo Rebelo de Sousa, não tem nada a ver com a organização do evento do dia 27 de março, mas o seu patrocínio fica claro com o discurso que aceitou fazer no encerramento da conferência em que os organizadores, que têm como associados nomes sonantes da banca à energia passando pela construção, seguros ou indústria, esperam juntar la crème de la crème do empresariado bilateral.

Fonte: Expresso.

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