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Milhares de jovens desempregados vivem de biscastes em Luanda

O desemprego continua a deixar milhares de jovens no desemprego em Luanda, entregues a alguns biscates para pagar as contas, muitos dos quais com formação técnico-profissional que não conseguem colocar em prática.

No bairro da Terra Nova, distrito urbano do Rangel, arredores do centro de Luanda, o problema vive-se sem rodeios, com os jovens a lamentarem-se na rua, justificando a falta de oportunidades com a crise que o país atravessa, por entre alguma esperança de mudança, com o novo ciclo político no país.

Gilberto Nelo da Silva procura pelo primeiro emprego desde os 17 anos, já lá vão três anos: “Deixamos os documentos nas empresas e as pessoas não são chamadas, às vezes aquela corrupção, então esperamos que as coisas sejam melhores com este novo Governo”, apontou.

Mesmo com formação em Higiene e Segurança no Trabalho, são os biscates diários que renovam as esperanças de Gilberto Nelo da Silva, no que apelida de “batalha da vida”.

“Vivo com os pais e o dia-a-dia é marcado por correrias. O bocado que aparece, fazemos a vida com alguns biscates e não podemos parar de batalhar”, apontou.

A taxa de desemprego em Angola situava-se no final de 2015 nos 20%, mas dois terços dos desempregados não procuravam emprego e os jovens são os mais afetados, segundo um estudo disponibilizado pelo Instituto Nacional de Estatística (INE) angolano.

É o caso de Irineu de Fátima da Silva, que com 28 anos já nem se lembra a última vez que teve o seu primeiro emprego, falando em “dificuldades diárias” e “lamentando a desvalorização” da juventude no país.

“Continuo a bater às portas e dessas veem apenas esperança. Aliás, a demora começa na conclusão dos documentos é aí onde começa a falha devido à burocracia. E quando tens os documentos já não há vagas”, lamentou.

Daí que reste sobreviver de biscates, ganhando ao dia, conforme “o que aparece para fazer”.

“Já há anos que me estou a aguentar com os famosos biscates, fiz formação de mecânica, corte e costura e restauração. Às vezes aparece algum serviço e vou vivendo”, assinalou.

Já Sílvio Rodrigues Francisco é técnico de informática e há seis meses bateu pela última vez à porta de uma empresa, em busca por emprego, e continua a aguardar pela resposta enquanto faz o curso de condução com ajuda dos pais.

“Vou batalhando para ver se consigo algo, mas não tem sido fácil. Faltam oportunidades de emprego, estamos com novo Presidente e vamos esperar o que ele tem para nos dar”, revelou.

Este jovem, de 20 anos, refere que são apenas os biscates que o mantém em pé, aguardando por qualquer oportunidade de trabalho: “Agora estou à espera da ligação e enquanto não chega o emprego, os biscates aparecem e vamos andando”.

Só para Luanda, o INE estima uma taxa de desemprego acima dos 25%, enquanto as mais baixas em Angola situam-se nas províncias do Cuanza Sul e Bié, com 8% cada.

Ainda no bairro da terra Nova, em Luanda, vive igualmente Francisco Matias, que já leva quatro anos sem emprego. Descreve a situação como “frustrante”, sobretudo quando a fome “aperta”, dependendo por isso da boa vontade dos vizinhos no momento de aflição.

“Trabalhava por conta própria, fui assaltado e estou assim agora a ver a vida com muita dificuldade, agora mais com a crise. Depois, mais com a família, a pessoa tem que se virar, porque quando não tem mesmo, batemos a porta do vizinho”, desabafou.

De acordo com Francisco Matias, de 33 anos, mesmo com formação em informática, é lavando carros ou servindo em festas sempre que possível que consegue algo para sobreviver.

“Está difícil. Para além de a pessoa ter algum curso, alguma formação, a falta de emprego continua a ser o grande drama dos jovens, aqui mesmo na rua temos mais de 100 jovens formados e sem profissão”, observou, enumerando os casos que conhece.

Fonte: Lusa

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