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Milhares no funeral “à altura da dimensão histórica” de Jonas Savimbi

Ao fim de 17 anos, o líder histórico da UNITA, Jonas Savimbi, teve ontem finalmente uma cerimónia fúnebre na aldeia de Lopitanga, onde também estão enterrados os seus pais. A informação foi confirmada ao jornal PÚBLICO pelo porta-voz do partido, Alcides Sakala, que falou num momento “histórico”.

As cerimónias começaram por volta das 11h00 e duraram quatro horas, disse Sakala. A Lopitanga, aldeia perto do Andulo, na província do Bié, acorreram milhares de pessoas, mais do que era esperado, segundo o dirigente da UNITA.

“Tudo correu como previsto, num ambiente de muita solenidade e muita comoção”, descreveu Sakala ao PÚBLICO, por telefone, acrescentando que não houve qualquer problema de segurança. A cerimónia “esteve à altura da dimensão histórica” de Jonas Savimbi.

O líder histórico do movimento anticolonial angolano foi morto em 2002, durante uma operação militar, mas o seu cadáver nunca foi entregue à família ou ao partido do Galo Negro. Na altura, Jonas Savimbi acabou por ser enterrado no Cemitério Municipal do Luena, no Moxico, sem direito a exéquias. Na véspera do enterro, um dos filhos de Jonas Savimbi, Durão Sakaita, disse à Lusa que a família “ficará finalmente em paz”.

A transladação dos restos mortais de Jonas Savimbi era uma reivindicação antiga da UNITA, mas que sempre foi recusada pelo anterior Presidente da República, José Eduardo dos Santos. A subida ao poder de João Lourenço permitiu que a iniciativa progredisse, apesar da contestação de alguns sectores do MPLA, que mostraram reservas em relação ao mediatismo das cerimónias fúnebres do líder do grupo contra quem combateram durante a guerra civil.

As cerimónias de ontem não contaram com a participação de nenhum membro do Governo angolano, disse Sakala. Depois da independência de Angola, Jonas Savimbi liderou a UNITA, com apoio sul-africano e norte-americano, na guerra civil contra o MPLA, apoiado por Cuba e pela União Soviética. Recusou reconhecer a derrota nas primeiras eleições, em 1992, e voltou a pegar em armas até a sua morte, em 2002.

O processo de transferência dos restos mortais de Jonas Savimbi do Cemitério Municipal do Luena, para a aldeia do Lopitanga, ficou marcado por alguma polémica. A liderança da UNITA esperava receber as ossadas do seu líder histórico no Cuito, mas o Governo decidiu entregá-las directamente à família depois de alguns dias de impasse.

Foi a intervenção de João Lourenço, na semana passada, que permitiu a conclusão dos procedimentos, evitando transformar a exumação do corpo de Jonas Savimbi numa luta política.

Nas cerimónias estiveram presentes vários representantes estrangeiros, incluindo o ex-ministro português João Soares, que destacou o “lugar incontornável na história de Angola e de África” ocupado por Jonas Savimbi.

O enterro de Jonas Savimbi “representa a necessidade de se reflectir o processo de reconstrução nacional”, diz Sakala. Para o dirigente da UNITA, o ex-líder guerrilheiro “tem um valor histórico acrescido pela luta pela democracia, numa altura em que Angola estava sob o cunho dos países do Leste para impor o marxismo e o sistema de partido único”.

Alex Vines, analista da Chatham House, disse à agência France Press que a transladação do corpo de Jonas Savimbi é “mais um passo rumo à reconciliação”. “Apesar de todos os seus defeitos, Jonas Savimbi era apoiado por uma parte significativa da população angolana e o seu partido continua a ser uma força política importante hoje em Angola”.

“Foi preciso chegar à Cidade Alta um Presidente que não fez a guerra, João Lourenço, para se autorizar o regresso de Savimbi a casa, para ser enterrado pela segunda vez e, provavelmente, iniciar o processo de recuperação do seu lugar no centro da História do país”, escreveu hoje António Rodrigues, jornalista do PÚBLICO.

Fonte: Público.

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