
A ministra da Saúde apelou esta segunda-feira ao “bom senso” para que os médicos ultrapassem a crise que se vive na Ordem dos Médicos (Ormed), cuja bastonária, destituída em Outubro passado, recusa abandonar o cargo.
“Nós temos que trabalhar com todas as classes de profissionais e vamos aqui apelar apenas ao bom senso. Estamos num momento difícil em que todos somos necessários para o trabalho que temos pela frente”, afirmou hoje Sílvia Lutucuta, sem entrar em detalhes.
A ministra falou aos jornalistas, em Luanda, no fim da cerimónia de recepção de material de biossegurança e testes da covid-19 doados pela União Europeia.
Para a governante, a ausência da bastonária, destituída em assembleia-geral extraordinária, configura uma “manobra dilatória para impedir que os interesses da classe que ela diz defender prevaleçam”.
O conselho regional norte da Ormed aprovou, a17 de outubro de 2020, a destituição de Elisa Gaspar, devendo ser realizadas novas eleições em 90 dias.
De acordo com a deliberação aprovada no fim daquela assembleia-geral extraordinária, além da destituição foi também decidido criar uma comissão de inquérito para analisar as irregularidades e promover uma auditoria independente.
Elisa Gaspar, há mais de um ano no cargo de bastonária da Ormed, é acusada de “descaminho de fundos e gestão danosa” da instituição, entre os quais um alegado desvio de 19 milhões de kwanzas (256.000 euros), e de “outros gastos injustificados”.
A médica Elisa Gaspar nega todas as acusações.
Desde 3 de Dezembro de 2020, está em funções uma comissão de gestão da Ormed, que emana da assembleia-geral extraordinária, na sequência de uma cerimónia de posse, reconhecida como “atípica”, por se ter realizado sem a presença da bastonária destituída.
A médica Arlete Nangassole é a coordenadora da comissão de gestão da Ordem dos Médicos de Angola.
Em Outubro passado, Elisa Gaspar disse ter encontrado uma dívida de 21 milhões de kwanzas naquele órgão que dirigia, garante continuar no cargo e prometeu avançar com duas queixas-crime contra o conselho regional norte, que promoveu a assembleia-geral extraordinária, por “calúnias”.
Por duas vezes, em Novembro e Dezembro, médicos angolanos que aprovaram a destituição da bastonária foram impedidos pela polícia de aceder às instalações da Ormed por alegadas ordens de Elisa Gaspar.