
A actriz Tônia Carrero morreu na noite de sábado, aos 95 anos, no Rio de Janeiro. A notícia foi confirmada à Globo pela neta e também actriz Luisa Thiré. Nome marcante do teatro, cinema e televisão brasileiros, Tônia Carrero, que o público recordará de telenovelas como Sassaricando ou Kananga do Japão, morreu devido a uma paragem cardíaca durante uma cirurgia numa clínica privada, onde estava internada desde sexta-feira devido a uma úlcera.
Filha de um militar, o marechal Hermenegildo Portocarrero, e de Zilda de Farias, “mãe recatada e do lar”, como escreve a Veja no obituário da actriz, Tônia Carrero nasceu no Rio de Janeiro a 23 de agosto de 1922, no registo, lia-se o nome Maria Antonietta de Farias Portocarrero. Mostrou vocação para os palcos desde cedo, mas o casamento aos 17 anos com o realizador Carlos Arthur Thiré, e a desconfiança deste perante a sua vontade de fazer carreira como actriz levou-a, inicialmente, por um caminho diferente. Em 1941, formava-se em Educação Física.
Seis anos depois, quando viaja com o marido para Paris, onde este cumpriria uma temporada de trabalho, preparava-se, sem o saber, para nova mudança (a decisiva). Foi na capital francesa que decidiu, sem possibilidade de retrocesso, que seria actriz. Actriz foi.
Em 1947 estreou-se no grande ecrã com Querida Suzana, de Alberto Pieralise, e através de Caminhos do Sul ou Perdida de Paixão, de Fernando de Barros, de Apassionata ou É Proibido Beijar, ambos de Ugo Lombardi, tornou-se uma das divas do cinema brasileiro na década de 1950. Paralelamente, deixava marca na cena teatral do país . Em 1949 contracenou com Paulo Autran em Um Deus Dormiu lá em Casa, e, pouco depois, fundaria com aquele e com o o italiano Adolfo Celi, então seu marido, a companhia Tônia-Celi-Autran.
Porém, seriam as telenovelas a consagrá-la definitivamente como estrela popular. Pigmalião 70 foi a primeira em que participou, em 1970, e a sua presença transbordou (literalmente) para as ruas : o penteado da personagem que interpretava tornou-se moda e ganhou nome próprio: ” Pigmalião”, precisamente. Dez anos depois, a sua Stella Simpson, personagem que interpretou em Água Viva, marcou um tempo pela forma emancipada e desassombrada com que assumia a condição feminina. Sassaricando, de 1987, e Kananga do Japão, de 1989, foram outras telenovelas em que deixou a sua marca.
Trabalhou pela última vez em televisão em 2004, integrando o elenco da Senhora do Destino e interpretando-se a si mesma num episódio de Um Só Coração .
Nos últimos anos, já sofria de hidrocefalia oculta que a foi debilitando, dificultando a capacidade de comunicação e de movimento, e que a obrigou a retirar-se para o seu apartamento no Leblon, protegida do olhar público. Ao longo da sua carreira, integrou o elenco de 54 peças de teatro, 19 filmes e 15 telenovelas.
Mulher que viveu e despertou paixões intensas, foi casada com os supracitados Carlos Arthur Thiré e Adolfo Celi e com o empresário César Thedim. Mais tarde na vida, confessou-se arrependida por não ter respondido aos galanteios de Juscelino Kubitscheck, Presidente do Brasil entre 1956 e 1961, e do grande poeta e compositor Vinicius de Moraes, que transformou o seu desgosto amoroso numa canção assinada com Baden Powell, Formosa.
O seu único filho é o também actor Cecil Thiré. Miguel Thiré, Luisa Thiré e Carlos Thiré, seus netos, seguiram também carreira na arte da representação.
Fonte : Público.