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Morreu o escritor Luis Sepúlveda, vítima da covid-19

O escritor chileno Luis Sepúlveda morreu esta quinta-feira, no hospital Universitário Central de Astúrias, em Espanha, onde estava internado desde o fim de Fevereiro, após ter testado positivo para o novo coronavírus.

A notícia foi confirmada pela agência noticiosa espanhola Efe e também pela sua editora em Portugal.

Luis Sepúlveda residia em Gijón, Espanha, desde 1997, na companhia da mulher, a poetisa Carmen Yáñez.

O autor chileno apresentou os primeiros sintomas da covid-19, apenas dois dias depois de ter marcado presença no festival literário Correntes d’Escritas, que se realizou entre 15 e 23 de Fevereiro, na Póvoa de Varzim, Portugal.

Quem também esteve presente neste festival foi o escritor cabo-verdiano, Germano Almeida que temeu estar infectado, depois de Sepúlveda ter testado positivo.

A confirmação de que estava infectado com a covid-19 levou, na altura, o Correntes d’Escritas a recomendar uma quarentena voluntária aos que participaram no festival e estiveram em contacto com o escritor chileno.

Tudo isto aconteceu ainda antes de as autoridades portuguesas confirmarem oficialmente qualquer registo de infecção em Portugal, o que só viria a acontecer a 2 de Março.

Luis Sepúlveda morre aos 70 anos de idade, depois de ter estado internado desde finais de Fevereiro num hospital de Oviedo, e deixa várias obras.

Obras Literárias e biografia

Luís Sepúlveda, que nasceu no Chile a 4 de Outubro de 1949, começou a escrever ainda quando frequentava o Liceu de Santiago do Chile e aos 15 filou-se no Partido Comunista Chileno.

Em 1969, com 20 anos, publicou Crónicas de Pedro Nadie, compilação de contos que lhe valeu o Prémio Literário da Casa das Américas.

Um ano depois conseguiu um diploma em Encenação Teatral, actividade que começou a exercer, dedicando também parte do seu tempo à política, à direcção de uma cooperativa agrícola e à locução de programas de rádio. Em 1970 casou-se com Carmen Yález. O matrimónio durou pouco tempo, mas 20 anos depois retomaram o romance até aos dias de hoje.

Depois do golpe militar que levou ao poder o ditador general Augusto Pinochet, e face à sua proximidade do Partido Socialista, do qual era militante, e com o governo de Salvador Allende, foi preso em 1973.

Dois anos depois, graças aos esforços da Amnistia Internacional, conseguiu ver a pena aliviada para prisão domiciliária. Acusado de traição e subversão, voltou a ser preso pouco tempo depois e sentenciado a prisão perpétua, primeiro, e a 28 anos de prisão, depois.

Em 1977, novamente graças à persistência da Amnistia Internacional, viu a pena ser comutada para oito anos de exílio na Suécia, onde deveria leccionar literatura espanhola. Na primeira escala em Buenos Aires, na Argentina, conseguiu fugiu e durante quase duas décadas não voltou ao Chile.

Nos anos seguintes viajou e trabalhou no Brasil, Uruguai, Paraguai e Peru. Viveu ainda no Equador entre os índios Shuar, participando numa missão de estudo da UNESCO.

Em 1979, ingressou na Brigada Internacional Simón Bolívar, na Nicarágua. Um ano depois, veio para a Europa. Na Alemanha começou a trabalhar como jornalista e conheceu a Greenpeace, com quem colaborou e participou em várias acções.

Em termos literários, duas décadas depois dos seus contos de estreia, em 1989, publicou O Velho Que Lia Romances de Amor. Localizado no território de uma tribo índia da Amazónia, este pequeno romance, ou novela, descende directamente da militância ecológica de Sepúlveda (que integrou o grupo Greenpeace) e da sua defesa do “único mundo que temos”, como diz na dedicatória a Chico Mendes, o seringueiro e activista ambiental brasileiro assassinado no ano anterior.

O livro tornou-se rapidamente um sucesso mundial, tendo sido vendidos vários milhões de exemplares, em dezenas de línguas.

Em 1996, publicou a História de Uma Gaivota e do Gato Que a Ensinou a Voar consolidou definitivamente a boa fortuna do escritor. Nesta fábula para crianças de todas as idades triunfa também a moral ecológica.

Depois de viver entre Hamburgo e Paris, em 1997 o escritor fixou-se em Gijón, nas Astúrias, em Espanha.

O reportório do escritor inclui distinções como o Prémio Eduardo Lourenço, em 2016, o Prémio Primavera de Romance, em 2009 e o Prémio Tigre Juan, em 1988 e uma bibliografia com mais de 20 títulos.

Fonte: Expresso das ilhas

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