Morreu o músico angolano Zé do Pau

José Farto Marques Airosa Ferrão ” Zé do Pau”, faleceu hoje, sexta-feira, 29 de dezembro, em Luanda, vítima de prolongada doença, soube a Vivências Press News de fontes familiares.
Zé do Pau começou a sua carreira artística, em 1970, como guitarrista solo do conjunto “Os Corvos”, do qual foi um dos fundadores, com Gildo Costa (vocalista principal e compositor), Zeca Pilhas Secas (Viola baixo e ritmo), José dos Santos (vocal), Didino (tambores) e Novato (vocal e dikanza). “Os Corvos”, uma formação musical com alguma solidez, a nível da execução instrumental, chegou a acompanhar artistas renomados como Sofia Rosa, Luís Visconde, Milá Melo, Belita Palma, Jaburú e Tchinina.
Como guitarra solo, Zé do Pau foi vivamente aclamado pela crítica da sua época. “Pôr -do-Sol”, um instrumental em solo guitarra, executado por Zé Keno, um tema referencial dos “Jovens do Prenda”, é da autoria de Zé do Pau.
Em 1972, Zé do Pau integra, na condição de convidado, a banda “Contacto”, uma formação pop/rock, que interpretava sucessos mundiais e standards da música rock dos anos 60.
Na sequência da experiência adquirida no conjunto “Contacto”, junta-se à banda sul-africana, Tony Sousa and Gize”, em Luanda, ao lado do cantor moçambicano Jerry, um excelente intérprete de canções do universo musical anglo-saxónico. Um ano depois é a vez das Organizações Facho, localizada no Lobito, convidá-lo a tocar ritmo na gravação de um disco do conjunto “Os Bongos” de Benguela, do célebre guitarrista Botto Trindade.
” Os Lord’s”, de vida efémera, foi a última grande formação de Zé do Pau, como guitarrista solo, uma banda que, no início dos anos 80, integrava os seguintes músicos : Armandinho (Viola baixo), Zitocas (Dikanza e voz ) e José de Oliveira (Percussão e voz).
Em 1972, profundamente abalado com a morte da mãe, compõe o tema que viria a ser a canção paradigmática da sua carreira: ” Página rasgada do livro da minha vida”. A página rasgada reapresenta, numa dimensão metafórica, o momento trágico vivido pelo autor, uma página que simboliza a morte da mãe . O livro é o termo de comparação do percurso de uma vida passível de múltiplos percalços.
Na sequência da morte da mãe surgem as canções: ” Apenas uma lembrança”, “A outra dimensão da vida” e ” Farrapo triste”, o último, um tema que ficou famoso pela voz do cantor Pedrito. A canção “Página rasgada do livro da minha vida”, acabou por ser gravada, em 1974, pela Valentim de Carvalho, tornando-se um dos seus maiores sucessos.
Ainda em 1972, forma com Santocas e Baião, o célebre guitarrista dos “Jovens do Prenda”, o ” Trio Salú”, uma formação que, ao lado da Orquestra Melodia Ribatejana, do maestro português, Sá Ribeiro, era presença frequente no convívio dos turistas no Mussulo.
Em 1999, grava o seu primeiro CD, “Renascer”, um álbum com oito faixas musicais. Em “Renascer”, Zé do Pau experimenta, na condição de editor e produtor, um estilo musical mais dançante, nos temas “Mabaia” e “Amor do Pobre” e regrava a canção “Página rasgada do livro da minha vida”.