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Não vos iludais… com sepulcros caiados…

“OS MAUS MESTRES ESTRAGAM OS BONS DISCÍPULOS” esta era a frase que vinha estampada no fascículo de Pedagogia que servia de apoio às lições da 10ª Classe do IMNE – Comandante Kwenha – Lobito, era a frase que nos chamava atenção, em concurso com a extraordinária beleza/charme da professora só superada pela sua extrema competência. A frase não era da autoria dela, vinha entre aspas e trazia o nome do autor. O tempo passou e a idade também, a minha mente guardou a frase, num profundo desejo de a compreender, pois ela me fazia espécie. Todos, ou quase todos, ao longo da vida e dependendo da posição em que se encontram, são discípulos ou mestres, transmitem ou captam a transmissão de ensinamentos e/ou exemplos, na maior parte das vezes, os mestres quando não influenciam apenas, determinam efectivamente, o ser, estar, o carácter e a convicção dos discípulos. Se o mestre crê no mágico, o discípulo decerto acreditará no feiticeiro. Se o mestre tendo em suas mãos a responsabilidade social de distribuir de forma equitativa determinado bem e ele parte, reparte e fica com a maior parte, sendo ele só, óbvio que o discípulo tenderá a nem sequer se dar o trabalho de repartir. Se o mestre tendo a responsabilidade de distribuir apenas para os colaboradores e ele com jeito inclui o filho, o discípulo perceberá que a distribuição aos colaboradores inclui, primeiro ou principalmente, os filhos, primos, vizinhos, porque não! Deste modo tratar-se-á, para o discípulo, de uma simples arte de superar o mestre ou de lhe seguir o exemplo. Tudo dependerá do conjunto de valores, crenças, convicções que acompanham o ser, o estar e o agir do mestre. Nas lides de transmissão de conhecimentos e de experiências o «faça o que eu digo e não o que faço» não funciona, aliás, como nos legou BP – Fundador dos Escuteiros «…lembrai-vos que os haveis de guiar pelo exemplo (…), por isso a melhor forma de alcançardes o êxito é seguirdes os conselhos que dás aos outros».

Assim por mais discursos elaborados que se possam fazer/ter, por inúmeras técnicas de comunicação, línguas, cultura geral, viagens realizadas, o carácter é sempre avaliado pelo exemplo, pelos actos e não simplesmente por ideias ou ideais e estes, nada são – se de facto não estiverem alinhados com os pequenos gestos do dia-a-dia, com as escolhas que se fazem, os critérios utilizados no processo de tomada de decisões, na transmissão de conhecimentos- se não existir coerência entre aquilo que se prega e a forma como se vive. Os discípulos ouvir-lhe-ão com bastante entusiasmo mas viverão ansiosos por uma oportunidade para agir como o mestre ou até superá-lo. Se o mestre diz-se comunista e vive como capitalista, pode até provocar uma deturpação de conceitos e acérrima defesa dela, mas o seu discípulo reservará para si uma vida de capitalista e acreditará piamente que é comunista e que o comunismo é assim.

Se o mestre vive a fintar doutrinas, princípios, lei ou a desenrascar soluções anómalas, o discípulo interiorizara que a lei serve para nada, os princípios são mera ilusão, os conceitos são relativos e a “escola” tem dono, mesmo que se pregue que ela é pública. Se por ventura alguém ousar dizer ou defender o contrário e pretender tirar daí o “mestre”, enfrentará a “fúria voraz” do discípulo que viveu toda uma vida a aprender e ansiar por pôr em prática o exemplo do mestre, é precisamente neste momento que a confusão se instala e os atletas do bem, pensam que estarão a cometer barbárie, tal é a dimensão e a robustez da força que se opõe a uma simples ideia diferente ou um diferente modo de estar e viver. Quem ousa questionar os “paradigmas” do mestre mau abre uma frente de combate, cuja batalha inicial custar-lhe-á caríssimo, é neste momento que se assiste a guerra entre discípulos de uns e de outros, do bem e do mal, mesmo se ambos interiorizaram que o diferente é o mal e eles defensores do bem, pois o mestre sempre assim procedeu e deixou-os proceder assim, num silêncio ensurdecedor com sabor a cumplicidade.

É nesta ocasião – em que os discípulos de uns, se cruzam com os mestres de outros (presentes física ou ideologicamente) numa verdadeira “luta de contrários” – que se torna necessária a introspecção, um encontro consigo mesmo, no mais íntimo de si, naquele espaço onde mais ninguém entra e serve de refúgio quando apanhado pelos remorsos de actos maus ou satisfação genuína do bem-fazer, é aí onde cada um saberá ser discípulo de um bom ou mau mestre, admitem-se excepções. A medida em que o tempo vai passando e o mestre continua mestre, aumenta o numero de discípulos, vão surgindo várias linhagens, sem que se esfume esta qualidade, convertem-se em mestres de outros e a “escola” multiplica-se, ganham configurações geométricas distintas, e num “franchising do viver conforme” comprando ou vendendo “passados, futuros e feitos”, quais herdeiros de tudo e “soberanos de pompas”, moradores de nobres periferias cognominadas de condomínios, utentes de “locomotivas japónicas, bávaras ou americanas” do protótipo para uso exclusivo da “escola”, herdam e investem na sumptuosa aparência (questionável apenas o processo pelo qual atinge), pois isto é o que mais interessa, pois o íntimo, este ninguém vê e pode continuar vazio, desértico, esquelético, cheio de nada, pois é bem disfarçado pela demonstração de “luxo, ostentação de riqueza e sucessos”, afinal, a aprendizagem não termina e quem não é pela “escola” que continue “analfabeto”! O que são valores, princípios e moral ao lado de um “ter tudo e bem viver”? Entre “estes nadas” (valores, princípios e moral) e TUDO, os discípulos bons dos maus mestres preferem coisas, preferem tudo, pois estas são palpáveis, extinguem carências, dão status, inserção nos ambientes desejados, sucesso garantido e “NADA” é um passaporte seguro para a “mendicidade material”! Assim vão contagiando, contaminando e angariando cadetes, não fosse a necessidade de a “escola” assegurar a continuidade, avaliada pelo desempenho do DISCÍPULO GRADUADO que mais candidatos a “aprendizes de feiticeiro” atrair. O empenho e a difusão são tais que os discípulos dos bons mestres quase que sentem “VERGONHA DE SEREM HONESTOS”. Entretanto, as escolas e os mestres atingiram outra dimensão, também já são virtuais, imaginários, chegam e vão em take-away, e “ganham” para si os bons discípulos, que continuando com o mesmo empenho, dedicação e devoção, empregam-nos, desta vez, ao serviço dos MAUS MESTRES e estragam-se ou não, dependendo do prisma a partir do qual se assiste a AULA. Para não se mudar de “escola” precisa-se saber de facto do que lado da história se prefere estar, ser-se firme, resistente e lutador numa quase atitude de “EREMITA DA/NA VIDA CONFORME”.

Atente à mensagem do único MESTRE: “ai de vós, escribas e fariseus hipócritas! Sois como sepulcros caiados: por fora parecem belos, mas por dentro estão cheios de ossos de cadáveres e de toda podridão! Assim também vós: por fora, pareceis justos diante dos outros, mas por dentro estais cheios de hipocrisia e injustiça. Ai de vós, escribas e fariseus hipócritas! Construís sepulcros para os profetas e enfeitais os túmulos dos justos, e dizeis: ‘Se tivéssemos vivido no tempo de nossos pais, não teríamos sido cúmplices da morte dos profetas!”… Mt 23, 27-32.

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