Negros Inventores: Madame C. J. Walker

Sarah Breedlove nasceu a 23 de Dezembro de 1867. Os seus pais eram escravos, viveram e trabalharam numa das maiores plantações de algodão em Delta, Estado de Louisiana (EUA). Habitavam uma barraca de chão de terra batida, sem portas nem janelas, sem água nem casa de banho. Condições extremamente desumanas, porém comuns entre a comunidade negra, na época.

Aos 7 anos, perdeu os pais – ambos vítimas da febre amarela. Consequentemente, a menina e os seus irmãos, Alex e Louvenia, viram-se obrigados a trabalhar na colheita de algodão, para se sustentarem. Colher algodão é uma actividade extremamente exigente para uma criança. Alex, o irmão mais velho de Sarah, mudar-se-ia para Mississippi, em busca de um trabalho digno que o ajudasse a sustentar as suas irmãs. Três anos mais tarde, quando Sarah tinha 10 anos de idade, ela e a sua irmã juntaram-se a Alex.
Em 1883, com apenas 14 anos de idade, Sarah Breedlove casou-se com Moses McWilliams. Três anos depois, nasceu A’lelia, a filha do casal. Quando A’lelia tinha apenas dois anos de vida, McWilliams foi assassinado. Com a morte do marido, o sustento da família, Sarah e a sua filha passaram a enfrentar dificuldades de vária ordem. À vista disso, despediram-se de Mississippi e, em 1889, mudaram-se para St. Louis, em Missouri. Sarah começou a trabalhar como cozinheira e lavadeira, um emprego razoável para uma pessoa de cor e iletrada, nessa época. Foi nesta altura que, no meio das dificuldades que experimentava, Sarah começou a perder o cabelo. Dia após dia, a calvície ia progredindo rapidamente e Sarah procurava desesperadamente um tratamento.
A Calvície ou Alopecia (derivada do termo grego Alopex que significa raposa, um animal que apresenta recorrentes quedas de pelo) caracteriza-se por uma gradual e progressiva perda de cabelo ou pela ausência de pelo numa determinada área da pele. Geralmente, é mais perceptível no couro cabeludo. Sarah Breedlove usou de tudo o que, na época, existia, mas nada conseguiu parar a queda dos seus fios capilares. Até que, num sonho, foram-lhes revelados os ingredientes necessários para a criação do produto que curaria a sua doença.
A rapidez com que regeneraram os fios capilares, nas zonas outrora dominadas pela calvície, revelou um produto eficaz e único. Sarah Breedlove, apesar de analfabeta, imediatamente reconheceu no seu produto um potencial comercial. Decidida a investir nele, mudou-se para Denver, no Colorado, e usou as suas reservas monetárias para adquirir as máquinas e equipamentos necessários para iniciar o negócio. A partir de casa, a inventora e a sua família enchiam pequenos frascos com o produto e ofereciam-nos aos vizinhos, para que estes o experimentassem e posteriormente, caso o resultado fosse satisfatório, se tornassem clientes. Felizmente, esta inteligente estratégia de marketing resultou. A procura disparou. O negócio cresceu. E o produto passou a ser vendido também noutros estados.
Em 1905, Sarah Breedlove casou-se com o jornalista Charles Joseph Walker, mudando, assim, o seu nome para Madam (Senhora) C.J. Walker, nome este que passou a estampar nas caixas e embalagens dos seus produtos. A inventora criou vários outros produtos de beleza que registaram alta demanda no seu país e, posteriormente, da Europa. De forma a atender à procura, abriu uma companhia para produzir e comercializar o produto em maior escala. Assim nasceu a The Madam C.J Walker Manufacturing Company, um investimento bem sucedido que a transformou na mulher negra mais rica do mundo.
Abriu os seus próprios laboratórios, onde os produtos eram testados antes de saírem para o mercado, garantindo, deste modo, que os seus clientes obtivessem produtos da mais alta qualidade. Abriu, ainda, vários “beauty parlours” (clínicas ou salões de beleza) em várias cidades americanas, nas Caraíbas e na América do Sul. Sem mencionar as escolas de formação criadas para os trabalhadores da companhia nos quatro cantos do mundo.

Em 1910, a The Madam C.J Walker Manufacturing Company mudou as suas instalações para Indianópolis, no estado de Indiana. No entanto, a companhia não parou de crescer e, naquele mesmo ano, atingiu uma memorável marca: mais de 25.000 mulheres de diferentes raças faziam parte do quadro de empregados da instituição. Foi também em 1910 que a The Madam C.J Walker Manufacturing Company foi declarada a maior companhia de cosméticos do mundo, fazendo de Madame C.J Walker a primeira mulher negra milionária da história.
Madam Walker sempre ajudou e trabalhou com a comunidade negra: além de empregar homens e, sobretudo, mulheres negras, também fazia doações permanentes a organizações e escolas negras. Madam Walker batia-se pela igualdade racial e foi uma das primeiras activistas a abordar a emancipação feminina.
“O meu objetivo de vida não é simplesmente fazer dinheiro para mim. Eu amo e sinto-me bem ao usar parte de tudo o que ganho para ajudar o próximo”.

Madam C.J Walker faleceu no dia 25 de Maio de 1919, aos 51 anos de idade, vítima de falência renal e complicações derivadas de hipertensão. Aos herdeiros, deixou um império construído com singular criatividade, suor e muita dedicação. Ao mundo, deixou, além de uma vasta lista de produtos ainda hoje usados para curar ou prevenir doenças da pele, um legado que, por si só, homenageia a inteligência e a garra que caracterizam as mulheres, no geral, e a mulher negra, em particular.