Os que sabem de tudo (ou cagadores de regras)

André Gide, grande intelectual francês de entre as duas guerras mundiais, após uma longa viagem por África na década de 30, disse ter constatado que quanto mais burro era o branco mais se julgava superior ao negro. Hoje isso não mudou muito, mas podemos acrescentar que, independentemente da cor, quanto mais burro é o burro mais ele se julga inteligente. Há ainda outra categoria, a dos que não sendo totalmente jumentos confundem inteligência com esperteza.
Nesta categoria incluo alguns dos grandes desviadores de dinheiros públicos. Usam e abusam de relações privilegiadas, armam grandes cumplicidades e declaram-se génios na acumulação e exibição de riqueza. Esperteza muito matumba porque exageram tanto que toda a gente vê de onde saíram as toneladas de kumbu.
Na mesma categoria entra a senhora Grace Mugabe, não por motivos financeiros (nada sei sobre ela na matéria) mas académicos. Quando o marido era chefe máximo, ela matriculou-se na Universidade do Zimbabwe e foi direto para o doutoramento. Não contente com isso, esperta como era, concluiu o mesmo em alguns meses. Esqueceu um pequeno detalhe: doutoramentos exigem de 3 a 5 anos. Esperta demais, agora está com uma investigação em cima.
Mas talvez os piores de todos sejam os polivalentes que sabem rigorosamente de tudo. Especialistas em generalidades que falam ou escrevem sobre tudo com o mesmo tom autoritário, se necessário até ofendendo e desprezando a inteligência do cidadão normal: crítica literária, posicionamentos políticos, reparação de prédios, solidez de pontes, velocidade da internet, tipo de roupa que combina com os sapatos, ópera e rebita, óscares da academia, lançamento de satélites, formas de agarrar os ladrões de galinhas, maneira de conduzir um carro em estrada de terra sem levantar poeira, matar mosquitos a tiro, mijar na via publica às 10 da manhã sem ser visto, etc, etc.
Por onde andam estes que sabem tudo? Na media ou, se preferirem, na imprensa escrita e falada. De que países? Aí é que está o drama da “sabichice” (não confundir com sabedoria). Tem uma abrangência geográfica global, todos os países sofrem com essa cam(b)ada, de tal forma que os profissionais mais sensatos dizem que aturar isso é o preço da liberdade de expressão. É melhor rir do ridículo desses polivalentes e poder optar pelo que ler, ver e ouvir, que viver sob censura.
Claro que também invadiram as redes sociais, numa de “cagar regras” como dizíamos nos velhos tempos quando Salazar fazia aqueles discursos contra o mundo, porque só ele estava certo, só ele sabia. Ao esbarrar com alguns desses enquanto comunicamos com pessoas normais, a solução é só uma: fazer neles aquilo que eles fazem com as regras.