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Nos riscos de estar vivo

Depois das festividades, a primeira conversa séria que vi este ano – e não me vou esquecer – foi da escritora nigeriana Chimamande Adiche com um entrevistador de televisão brasileira. Ela falou da Nigéria, de dois dos seus livros, da situação da mulher africana e do racismo por ela visto e sentido no Brasil. Vida da mulher africana e dos negros no Brasil, duas faces da mesma moeda, da mesma opressão e discriminação, em termos que, diriam alguns para sublinhar o “medievalismo”, já não se usam. Ou não deviam usar-se mas, infelizmente, estão aí para nos lembrar como coisas vindas de muito longe ainda hoje afligem milhões.

A segunda constatação séria do ano veio pouco depois ao ler “mensagens” num dos “nossos” grupos do facebook. “Mensagens” às vezes longas porque os autores  são prolixos na mesma proporção da sua vontade em  fazerem-se notar e de afirmarem posições de extrema direita. Sim, temos extrema direita em África. Afinal porque não? È ameaça existente em todas as sociedades e nós somos parte do mundo. Isto, porém, não pode conduzir-nos ao fatalismo e apatia. Como em todo o mundo, a extrema direita neste continente tem de ser enfrentada sem nos deixarmos intimidar.

Provável tarefa primordial já para o ano acabado de iniciar, pois a afirmação democrática requer solidas posições de defesa e avanço.

Perto do fim do ano passado tivemos três bons exemplos. Angola é um deles, com ampliação da liberdade de expressão, sinais anti-corrupção e contacto mais simples e direto entre estado e sociedade. Tudo muito mais rápido que esperado, o que também é valorizador: não se ficou naquela de termos de “ir devagarinho pois esse é o  nosso ritmo”, quer dizer, mais lento que o dos outros. Nada disso; somos parte do mundo e podemos caminhar tão rápido quanto os demais e  a situação o exija.

Agora temos um OGE a executar para darmos base material á democracia e à ética. É sem duvida um orçamento com riscos, mas isso também não deve intimidar. Sem dúvida, ao longo do exercício estará sujeito a correções e atualizações, tanto nas despesas como na busca de receitas. É assim a nossa vida e nem é novidade. Muitos de nós, ainda vivos apesar da idade, vivemos em risco desde os nossos 15 ou 16 anos quando entramos na luta por esta paixão chamada Angola.

Melhorar os nossos indicadores sociais no curto prazo é crucial, sem isso paramos de novo e já estivemos parados tempo demais.

Há outros dois exemplos muito recentes a merecerem referência. Na Libéria houve alternância de poder através de eleições pela primeira vez em mais de 70 anos, enquanto na África do Sul  a maioria no maior partido do país afirmou-se contra o Chefe de Estado. Não sabemos como será a rota de Georges Weah na Libéria nem de  Ramaphosa na África do Sul. Temos interrogações sobre o comportamento que possa ter a vice-presidente liberiana, Jwele Howard-Taylor, ex esposa do ex ditador Charles Taylor. Estamos preocupados com as alianças que possam surgir dentro do ANC tendo em vista as eleições de 2019. Mas tudo isto faz parte dos riscos inerentes á construção do desenvolvimento democrático. Ficar parado não é opção. Nem se deixar intimidar.

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