O adeus de um “malabarista” disfarçado de futebolista

Ronaldo de Assis Moreira, o menino Dinho ou mais tarde Ronaldinho Gaúcho, como ficou imortalizado nos relvados. Aos 37 anos, um dos maiores jogadores de sempre, um dos maiores artistas e malabaristas da história do futebol diz adeus . Ronaldinho Gaúcho vai deixar de ser futebolista profissional.
O anúncio foi feito por Roberto Assis, o irmão dez anos mais velho, também ele um antigo futebolista que renunciou à carreira para ser o empresário. Mais do que irmãos ou empresários e cliente, a relação entre os dois foi de pai e filho ( Ronaldinho perdeu o pai, vítima de um ataque cardíaco fulminante, quando tinha oito anos).
Quer tenha sido no Grémio, Barcelona, AC Milan, no Atlético Mineiro, na selecção brasileira, Ronaldinho Gaúcho sempre espalhou magia e alegria. E mais do que o admirar, devemos-lhe hoje gratidão pelo extraordinário prazer que era vê-lo jogar. Um registo inesquecível e uma capacidade técnica inigualável. O seu futebol era uma mistura de opostos : era suave e frenético. Tinha leveza no toque e rapidez de explosão. Ronaldinho Gaúcho era a sublimação da arte, era a alegria, o toque enamorado à bola .
Ronaldinho Gaúcho poderia ter sido o Pelé da sua época, mas preferiu ser um Garrincha. Preferiu ser a alegria do povo, a magia do futebol. Ele era indiscutivelmente um artista da bola, e havia ritmo nas suas fintas. Havia ginga e classe nos seus dribles, havia rimas nas suas arrancadas que eram muito semelhantes às passadas do exímio sambista que ele era.
As honras da glória não lhe subiram à cabeça e todos os que o conheceram sempre admiraram a sua simplicidade, a sua humildade, o seu bom coração e extraordinário sentido de solidariedade. Tal como Garrincha, Ronaldinho Gaúcho procura não humilhar os adversários com os golpes de génio, pois o seu objectivo era apenas alegrar o povo . Com eles o futebol era isso mesmo : Magia e alegria.
Tal como Garrincha, Ronaldinho Gaúcho era de outra galáxia dentro dos relvados, mas fora os relvados também era um ser imperfeito, um génio torto. E nos últimos anos da carreira foi uma sombra de si mesmo . Se Garrincha era o génio das pernas tortas, eu baptizo Ronaldinho Gaúcho de : O génio dos dentes tortos e sorriso de menino inocente.
Agora que abandona o futebol profissional, percebemos que Ronaldinho Gaúcho nos enganou a todos : Ele não era um futebolista. Ele era um malabarista, ele era um artista disfarçado de jogador de futebol. Um artista que submeteu a bola ao império da sua vontade. Sem ele o futebol perde alegria e clama por magia.
Obrigado Dinho, obrigado Ronaldinho Gaúcho. Um malabarista, um artista que deu bom futebol ao mundo e alegrou o povo .
Ahhh isso mesmo, um grande Suspiro e saudades. Obrigado, pela idade que tenho não pude ver o Garrincha, mas ver o Gaúcho (curioso ambos com iniciais GA) já compensa, aquela alegria, o sorriso, o brilho, a rapidez e o melhor a Ginga.
Vemos o Neymar a se retrair e ainda a evitar em certas situações a ginga, mas do Gaúcho só foi Ginga (novamente o G – e curioso né?). Foi tudo dito, saudades teremos.
Obrigado Ronaldinho Gaúcho.