O Desenvolvimento Encalhado
A primeira condição para o desenvolvimento socioeconómico é possuir recursos humanos bem formados e criativos. Sem isso nem elevados recursos naturais dão lugar a desenvolvimento. Dão lugar, sim, a extração primária voltada para exportação, ou seja, para o desenvolvimento de outros. Nestes termos, a primeira questão ao avaliar um periodo governativo – seja qual for a categoria de países – consiste em verificar se a formação técnica e cientifica avançou, recuou ou estagnou (estas duas significam de facto a mesma coisa).
Há décadas, a Suíça dizia no seu marketing promocional que “não temos petróleo mas temos ideias” e as ideias são essenciais para o acumulo de riqueza a ponto de se dizer “muita gente acha que Bill Gates ficou bilionário em virtude de computadores; falso, foi em virtude de ideias”.
Por sua vez, um membro do governo de Singapura, após o seu país ter os níveis de gestão alçados ao primeiro lugar numa classificação da “Business Week”, declarou “isto é fruto de vinte anos de investimento na educação”. Pouco depois de entrar na Casa Branca (ou talvez um pouco antes) Barak Obama sublinhou que, apesar da crise, jamais seriam feitos cortes no apoio ao ensino de disciplinas como matemática, pois isso conduzia ao enfraquecimento geral da capacidade norte-americana.
Para quem trabalha – e sobretudo leciona – em economia internacional, essas citações ou referências são mais que óbvias. No entanto, repeti-las parece ser continuamente necessário.
Olhando África de modo geral, vemos os indicadores de recursos humanos perigosamente estagnados. Há avanços quantitativos no ensino de base mas, mesmo assim, em níveis de qualidade tão baixos que a repercussão nos escalões de ensino seguinte deixa os alunos incapacitados em acompanhar as novas matérias. Como agravantes vêm o abandono em larga escala (acima de 10% já é larga escala para países no estágio em que nos encontramos), a descuidada ou improvisada formação de professores e as instalações e equipamento em estado deficiente.
Na pesquisa científica e nos programas culturais, todos sabemos serem os primeiros a sofrer corte em caso de queda nos recursos financeiros, traduzindo políticas de austeridade, reprodutoras por elas mesmas dos fatores de crise. A “austeridade” necessária consiste no corte de despesas supérfluas e no fim da corrupção.
Em todos os debates, pesquisas ou textos coletivos de que tenho participado, damos várias voltas aos desafios continentais e voltamos sempre ao mesmo ponto: se não construirmos sistemas educativos ( e não meras somas de escolas) de bom desempenho, com larga abertura para os grandes centros de inovação, vamos continuar com políticas de desenvolvimento encalhadas.