Sair das perplexidades do momento

A mudança na presidência da República trouxe mais sobressaltos e perplexidades do que era esperado até à tomada de posse do novo presidente. Tanto melhor, pois sentia-se ser necessário substituir caducos e perniciosos modos de exercício do poder.
Três discursos do novo presidente, João Lourenço, auguraram mudanças que se corporizaram em alguns nomes da equipa executiva que escolheu e substituições de órgãos dirigentes de sectores chave da economia angolana. Esta vertiginosa mudança de dirigentes sobressaltou muita gente dos órgãos directivos do MPLA e alguma gente do mundo dos negócios, aguçou apetites em candidatos a privilégios ou a lugares confortáveis em torno do novo chefe do poder e acalentou esperanças de abertura e participação em largos sectores da sociedade civil.
Passada a vaga de substituições de pessoas o que virá como mudanças da política governamental anterior? Até à data parece não haver resposta adequada. Ainda perplexos: governantes, membros do partido no poder, oposição e largos sectores da sociedade civil tardam em equacionar e anunciar as políticas necessárias para solucionar os graves problemas económicos e sociais que afligem o país.
No imediato, são muitos e complexos os problemas a resolver, por exemplo: a difícil situação financeira; o desempenho do aparelho do estado e a sua transparência; o arranque concreto da diversificação da economia, dentro de um plano vasto de definição de sectores prioritários e apoio a investimentos nesses sectores; as correcções a efectuar nas políticas de educação, saúde e assistência social.
E, a médio prazo, na minha opinião, há tarefas estratégicas de fundamental importância para Angola: a redução das profundas desigualdades sociais, a democratização do país, através de uma revisão da Constituição que consagre a separação efectiva dos poderes: executivo, legislativo e judicial; a implantação do poder autárquico.
Todas estas numerosas e cruciais tarefas requerem, para lá da acção governativa, o empenho dos cidadãos, nomeadamente da elite dirigente. No plano político, o diálogo com a sociedade civil e a partilha são fundamentais; no plano económico, essa elite, que tem aversão ao risco e é ávida do lucro fácil e rápido, deve passar a investir em sectores produtivos e ter consciência que as extremas desigualdades sociais existentes também prejudicam a sua própria evolução.
Muito se discute, muito se especula sobre o actual momento político angolano. Felizmente que, nesse coro, aparecem pessoas a querer discutir e debater as mudanças que o país precisa e como as realizar. Já vai sendo tempo.