Eugénio Costa AlmeidaOpinião

O livro, esse eterno companheiro desconhecido

Qualquer que seja a época, a altura, o mês, a semana, o dia ou a hora, é tempo de estar sempre acompanhado e um livro. Bom, medíocre ou mau, independentemente do que digam os críticos, somos sempre nós que os classificamos, conforme sentimos ou não empatia com o que lemos.

Mas quem está no hemisfério Norte, como eu e todos os que estamos diasporizados, seja por razões profissionais, ou por nos sentirmos mais livres, ou porque são férias, é nesta altura que deixamos o espírito navegar pela leitura: romances (de todos os tipos), poesia, contos, crónicas. Alguns, pelas biografias territoriais, a que se costuma chamar de roteiros…

Por exemplo, nesta última semana, depois de ter lido, visto e revisto, alguns textos de futuros Doutores da nossa luso-africanidade, de ter preparado, revisto e apresentado trabalhos, de ter deixado em “descanso” uns três ou quatro trabalhos escritos – uns já em andamento, outros em modo de planeamento – considerei ser tempo de fazer uma cura, uma terpia literária e pegar em excelentes autores, lê-los, relê-los, completar alguns que já tinha iniciado ou conhecer novos.

E foi assim que completei um excelente e deliciosa livro de crónicas do laureado prémio de Jornalismo «Maboque 2013», Rúbio Praia e a colectânea, «Balumuka – Crónicas» que, em tão boa hora, me foi dada a conhecer por Armindo Laureano; ou ler – depois de uma breve diagonalização, uns, ou obras novas, outros – livros como «Tambwokenu – Viagens pela minha terra», de Sandra Poulson, ou «Teoria Geral do Esquecimento», de José Eduardo Agualusa, ou «O Papel dos Escritor na Sociedade Colonial Angolana», de João Ngola Trindade, ou o mais recente livro de Jonuel Gonçalves «Do Capital Gonalves Zarco ao Capitão Jair Bolsonaro – Movimentos pendulares de economia e poder no Atlântico Sul» (este como apoio a um texto científico que estou a escrever e que +e um dos que está em estágio…), ou o livro de Marcolino Moco «Angola, Estado Nação ou Estado Etnia-Política», bem como muitos outros, entre os quais, «Aldeia do Paraíso», de José Carlos Moutinho, soberbamente apresentado pelo nosso antigo tribuno do Tr1bunal Constitucional, Onofre dos Santos.

E foi ao ler o, creio, mais recente romance de Onofre dos Santos «Lenguluka, Crónica de um Amor a Grande Velocidade» que achei interessante escrever esta crónica, epístola, artigo, sobre o aquele que, normalmente, se costuma falar pelo seu Dia Internacional: o livro.

O livro, aquele objecto que quando se junta uma amálgama de palavras, num conto, num romance, ou um poema podem sempre emergir. Da sua divulgação e leitura fará que não morram esconsos numa escura e funda gaveta. Disso depende dos que os escrevem e dos leitores que o consomem (esta é uma frase que, tenho usado no meu blogue de cultura, “Malambas”, para definir a necessidade de divulgar Cultura literária.

Mas foi pela pena de Onofre dos Santos, no «Lenguluka» que li a melhor definição ou interpretação de um livro e que tomo a liberdade de replicar: «O livro usa uma potente tecnologia: juntaras que se transformam em palavras. A palavra escrita é perigosa. Dos traços que formam a palavra escrita, nascem mundos e monstros, anjos e homens, punhais e beijos. Tem na mão um livro, a forma mais silenciosa e sublime de gerar pensamento e emoção».

É por isso que o livro acaba sempre, até ser lido – e mesmo depois de lido, quantas vezes –, por ser um eterno companheiro desconhecido.

E é por tudo isto que Onofre dos Santos de forma sublimar nos remete para o porquê de muitos autocratas e geradores de poderes absolutos não gostarem de livros e de quem os lê.

É que da leitura de um livro sai sempre pensamento, emoções e pode criar mentes que deixam de ser estupidecidas e se tonam mentes livres e empreendedoras.

Por isso, é que o livro, este meu eterno companheiro de muitos decénios, é tão incompreendido…

Viva o livro!

* Investigador do Centro de Estudos Internacionais do ISCTE-IUL(CEI-IUL) e investigação para Pós-Doutorado pela Faculdade de Ciências Sociais da Universidade Agostinho Neto**

** Todos os textos por mim escritos só me responsabilizam a mim e não às entidades a que estou agregado

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