O que estava bom começou a amesquinhar

Depois de 100 dias experimentados com intensa euforia por todos aqueles que consumiram 38 anos augurando mudanças, algumas exonerações aqui, outras nomeações acolá, serviram de estopins motivadores na crença de que chegara a tão esperada mudança, e que com esta emergiriam sumptuosos amanhãs num país que abraça uma severa crise financeira, e por isso mesmo, exige reformas profundas, rigor, transparência e especialmente a adoção de medidas de boa governação. Apesar dos pontos positivos registados durante o período de graça, portanto, os primeiros 100 dias de governação efectiva do governo liderado pelo Presidente João Lourenço, não há garantias de um futuro risonho, pelo menos, não a curto nem médio prazo.
Sim, porque o que estava bom iniciou a estragar.
Quando aguardávamos expectantes por um Orçamento Geral do Estado (OGE) que demonstrasse um divórcio dos OGE´s executados no passado, (1) que ilustrasse investimento no capital humano, (2) que fomentasse o investimento privado, (3) que eliminasse o apoio ao que alguém chamou “ falsas organizações de utilidade pública, finalmente, (4) esperávamos um OGE que rompesse com a despudorada insensibilidade e séptica discriminação de sectores vitais, como o são os sectores da Educação e o da Saúde. Obtivemos mais do mesmo.
O OGE 2018, apresentado pelo Presidente da República à Assembleia Nacional, atribui apenas 5,36% do seu valor total à Educação, o que aponta uma redução se comparado aos já irrisórios 6,75% destinados ao sector no OGE do ano passado. Desta forma, não nos surpreender o facto de no ano corrente mais de 106,000 alunos encontrarem-se fora do sistema de ensino, ou seja, estes alunos estão impedidos de estudar por falta de salas de aulas e consequentemente de professores. Afinal de contas, não é de pessoas educadas que o país precisa.
Nem irei discorrer sobre a já muito exteriorizada questão; Como é possível a Casa Militar do Presidente da República ostentar um orçamento 3 vezes superior ao orçamento atribuído ao Poder Judiciário?
A diversificação da ecomimia com base na massificação e desenvolvimento agrícola tem sido cantada há bastante tempo, ainda assim, menos de 1% foi alocado à agricultura. Desta forma, adiamos, mais uma vez, o sonho e esticamos o já extenso caminho rumo à autossuficiência alimentar.
O que estava bom iniciou a amesquinhar
É vital compreendermos que, ostentar vontades e apresentar discursos que escorrem na sua direção não basta para efetiva a dimensão da mudança que se almeja. Se verdadeiramente nos queremos divorciar das práticas visivelmente nocivas do passado, urge começar a agir de forma diferente, sem acções que reflitam as assertivas palavras e ambiciosas vontades será mais difícil chegarmos lá.