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Óculos

As coisas não nos acontecem por acaso. O mundo não nos acontece simplesmente. Quer tenhas consciência disso ou não, o que acontece fora de ti, depende do que está dentro de ti.
Mesmo relativamente àquilo que não podes controlar, as interpretações que fazes delas, dependem dos óculos que queres usar ao olhar para elas.
A complicação da vida está na inflexibilidade. A capacidade de entender que minha realidade pode ser diferente da tua, não é algo que todos tenham. Muitas pessoas criam uma opinião sobre algo ou alguém e fixam isso como a única verdade absoluta.

Expliquem-me como pode uma pessoa querer mudar de resultados, se não quer mudar de cabeça?
As pessoas criam realidades de acordo com as suas experiências, e todos temos experiências diferentes, educações diferentes, personalidades diferentes.
Faz-me muita confusão pessoas acharem que existe o desporto certo, o curso certo, o emprego, o lugar certo… Obvio que existem coisas que gosto mais ou não, que terei mais paixão a fazer ou não, mas o que determina tudo é aquilo que fazes desse desporto, curso, emprego ou lugar.

Quando fui pela primeira vez viver em Madrid, estava a passar uma das fases mais complicadas da minha vida. Jogava basquete lá e estava também a tirar o Mestrado. Não percebia muito bem espanhol, não conhecia os meus colegas de turma, nem a minhas colegas de equipa.

A minha vida era uma dureza. Treino as 9:30 da manhã, almoço no clube, mochila às costas para ir para as aulas a uma hora de distância de comboio, voltava em mais uma viagem de comboio, treinava às 18:00, e voltava para casa para mais uma viagem de 40 minutos de metro.

Não estava a apanhar o ritmo das aulas como queria, até porque não conseguia ir a todas por causa dos treinos, e estava numa equipa onde tinha que evoluir muito para conquistar um espaço.
Andava cansada, triste, sozinha, frustrada, e o meu ritmo estava a diminuir. Queixava-me muito, mesmo sem pensar em desistir, o que me fazia andar muito em baixo e muito insegura. Obviamente isso via-se em tudo o que fazia.

Mas um dia, numa dessas minhas viagens de comboio, ia eu com a mochila gigante sentada numa cadeira que dava para uma janela gigante, e lá fora estava o pôr-do-sol a acontecer atrás da serra. O calor batia-me na cara, e de repente a minha cabeça mudou.
Estava a jogar na Liga Espanhola, estava a estudar em Madrid, estava a tirar um Mestrado, estava a poder conciliar as duas coisas, estava a caminho dos meus sonhos…

Parecia uma discussão interna. Duas pessoas a dizer a mesma coisa, mas com pontos de vista totalmente diferentes. Um positivo e outra nem tanto.
E de um segundo para o outro, a forma como eu via as coisas mudou, então as coisas também mudaram.
Se a forma como olhas para as coisas mudam, as coisas para que olhas começam a mudar de forma.
Há coisas na nossa vida que queremos mudar, mas muitas vezes não são essas coisas que têm que mudar, são os óculos que usamos para olhar para elas.

Até para a semana!

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