
O número de pessoas que enfrentam insegurança alimentar pode duplicar devido à pandemia de covid-19, passando de 135 milhões de pessoas no fim de 2019 para 265 milhões no fim do ano corrente.
A conclusão faz parte do Relatório Global de Crises Alimentares, publicado pelo Programa Mundial de Alimentação, PMA, Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura, FAO, e outros parceiros.
Motivos
O relatório apresenta a escala de insegurança alimentar em cinco fases: mínima, stresse, crise, emergência e fome.
Em 2019, por comparação com 2018, mais de 5 milhões de pessoas estavam nas últimas três fases. A maioria, cerca de 77 milhões, vivia em países afectados por conflitos. As mudanças climáticas eram responsáveis pela situação de 34 milhões de pessoas e as crises económicas responsáveis por 24 milhões.
As piores crises eram no Iémen, República Democrática do Congo, Afeganistão, Venezuela, Etiópia, Sudão do Sul, Síria, Sudão, Nigéria e Haiti. Estes dez países eram responsáveis por 66% da população total afectada.
Países lusófonos
O relatório do PMA destaca uma lista de 35 países onde a situação é mais grave, e nestes incluem-se Angola e Moçambique.
A situação mais preocupante é Moçambique. Com uma população total de 27,9 milhões, 1,7 milhão de pessoas estavam nas últimas três fases de insegurança alimentar, cerca de 1,4 milhão em situação de crise e 265 mil em situação de emergência.
Mais de 67 mil crianças com menos de 5anos sofriam de desnutrição grave e 42,6% tinham problemas de crescimento.
O ano passado, os ciclones Idai e Kenneth destruíram plantações e aumentaram o preço dos alimentos, agravando a crise alimentar que o país já enfrentava. Em 2020, as agências internacionais esperam que os números se mantenham, devido à seca e às cheias.
Já em Angola, a insegurança alimentar aumentou devido à seca nas províncias do Sul e ao afluxo de refugiados da República Democrática do Congo.
No país com 31,8 milhões, mais de 562 mil pessoas foram afectadas. Cerca de 272 mil viviam em situação de crise e 290 mil em emergência. Mais de 8% das crianças com menos de 5 anos sofriam de desnutrição grave e quase 30% tinham problemas de crescimento.
Em 2020, a melhoria das condições de seca deve ajudar as pastagens e aumentar as perspectivas de produção agrícola.
A pandemia que agrava a situação
Os dados do relatório foram recolhidos antes da pandemia de covid-19. Em 2020, a situação “é particularmente preocupante devido às previsões da evolução da pandemia”.
O declínio na actividade económica provavelmente diminuirá os orçamentos nacionais e os das famílias. A situação alimentar pode continuar a piorar, mas a magnitude das consequências ainda não é conhecida.
O relatório afirma que “a maioria dos países mencionados não tem meios para realizar actividades humanitárias de resposta à pandemia e, ao mesmo tempo, proteger e apoiar os meios de subsistência dos seus cidadãos”.
Os autores do documento alertam que os doadores internacionais “podem considerar cada vez mais difícil dar prioridade à ajuda no exterior quando as situações sociais e económicas dos seus países também estão a ser muito afectadas”. Apesar disso, o relatório afirma que os Estados-membros cobertos pelo estudo “não devem ser obrigados a escolher entre salvar vidas e salvar meios de subsistência”.
Fonte: ONU News