Os angolanos são muito criativos para conseguirem divisas

Desesperados pelas restrições, os angolanos estão a encontrar novas formas de converter os kwanzas em dólares ou euros.
Filipe Afonso ficou cansado de esperar na fila de um banco para trocar seus kwanzas por dólares. Para contornar a situação decidiu comprar duas motas BMW em segunda mão e enviou-as para Portugal, vendeu para conseguir pagar as despesas da família.
“Fazemos de tudo para conseguir divisas”, disse Afonso, que administra uma concessionária de camiões nos arredores de Luanda. Outros viajam centenas de quilómetros para venderem fraldas, televisores plasma ou cerveja na República Democrática do Congo, onde a moeda estrangeira está valorizada.
Angola é o segundo maior produtor de petróleo de África e um membro da OPEP, foi uma das economias que teve o crescimento mais rápido do mundo após a guerra civil ter terminado em 2002. Com os petrodólares, o governo gastou bilhões em estradas, linhas de caminho-de-ferro e outras infra-estruturas. A queda acentuada do preço do petróleo começou em 2014, o crescimento económico desacelerou para zero no ano passado e os influxos da moeda estrangeira diminuiu.
O governo encontra-se numa situação bastante delicada: a desvalorização do kwanza é essencial para atrair investimento e estimular as exportações, esta estratégia irá aumentar a inflação, que subiu para valores perto dos 40% este ano, num país que importa quase todos os seus bens de consumo. Proteger a moeda está a esgotar as reservas cambiais, que caíram nos últimos quatro anos. “Continua haver rumores sobre uma desvalorização efectiva do kwanza, mas não acho que isso possa acontecer antes do final do ano,” disse Tiago Dionisio, analista baseado em Lisboa para Eaglestone assessoria SA. “A desvalorização colocaria ainda mais pressão sobre os preços imputados ao consumidor. Acho que as autoridades locais continuarão a defender o kwanza à custa das reservas internacionais.”
As preocupações com o branqueamento de capitais no sector bancário levaram a que os bancos estrangeiros suspendessem a entrega de dólares aos credores angolanos em 2016, agravando a sua escassez. O novo governo de João Lourenço, que assume o cargo de presidente no dia 21 de Setembro, não terá alternativa se não desvalorizar o kwanza se a liquidez persistir, afirmou o a Moody’s a 30 de agosto.
Milhares de trabalhadores chineses e portugueses retornaram aos seus países por terem dificuldades na obtenção de divisas, os que optaram por ficar vão ter de ser bastantes criativos.
Todas as quartas-feiras, Júlio Lusol, 33 anos, apanha um autocarro em Luanda em direção a Luvo (a norte da fronteira com o Congo), que fica a mais de 560 quilómetros para ir ao mercado. “Eu não estou a tentar lucrar” disse Lusol, enquanto esperava pelo chegada do autocarro em Luanda, Estava carregado com fraldas, televisões e cerveja, “Eu só quero ganhar dólares”. afirmou.
O fluxo de bens angolanos para o Congo tornou-se bastante intenso o que obrigou o governo congolês a proibir durante seis meses transações com Angola.