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Os maus exemplos do Brasil e Venezuela

O grande e saudoso cineasta brasileiro Glauber Rocha deixou entre os seus filmes um com nome adequado á situação atual do seu país e vizinhos: “Terra em Transe”. No momento, vale no mínimo para dois países da América do Sul: Brasil e Venezuela.
No primeiro caso, o Presidente Michel Temer  aguarda votação na Câmara dos Deputados para saber se vai ou não ser denunciado por corrupção passiva e o ex Presidente Lula  vai enfrentar novo processo – agora relativo ao sitio de Atibaia – por alegadas vantagens materiais como retribuição de serviços que teria prestado a empresas construtoras.
No segundo caso, a empresa Smartmatic, organizadora do voto eletrônico no referendo venezuelano para uma assembleia constituinte, disse pela voz do seu executivo-chefe que a Comissão Nacional Eleitoral manipulou os resultados acrescentando, no mínimo, um milhão de votos.
Ambos os países vivem crises de alto impacto com carência dramática de bens essenciais e inflação a três dígitos na Venezuela, enquanto no Brasil os desempregados  são mais de treze milhões e a taxa de crescimento este  ano talvez chegue a 0,5% no melhor dos cenários. Crises deste gabarito não começaram ontem, são sempre cozinhadas  durante anos até eclodirem.

No caso do Brasil, por exemplo, durante anos grandes contratos com empresas estatais, tipo Petrobrás, só podiam ser feitos mediante pagamentos aos partidos da coligação governamental dirigida por Dilma Roussef e Michel Temer. Além disso, esta coligação apresentou orçamentos com fraude – as chamadas “pedaladas fiscais” – com relevo para remeter dívidas do respetivo exercício para o exercício seguinte, a fim de esconder  contas desequilibradas.
A coligação rachou brutalmente por divergências internas entre as suas principais figuras na distribuição de cargos e também porque o modelo económico brasileiro precedente entrou em colapso e o governo revelou-se incompetente para o renovar. Conhecemos a sequência com a troca de acusações entre os antigos aliados e seus amigos ou seguidores, cada lado procurando acusar o outro como demônio absoluto. Para a população ambos são responsáveis. Para o país tiveram efeito destruidor.

Na Venezuela, as tendências autoritárias vêm de longe e a crise dos preços do petróleo pôs a nu essas tendências com forma de manutenção no poder pelo governo designado como bolivariano. Deixar uma economia depender de recurso quase único já é muito mau sinal porque, mais tarde ou mais cedo, conduz também ao colapso. Neste caso tudo piorou com o “desconhecimento” pelo Presidente Maduro da vitória oposicionista nas eleições legislativas (com maioria de dois terços). Um Presidente democrático teria colocado o seu cargo á disposição dos eleitores; ele optou pelo confronto e por esta jogada de  assembleia constituinte, com critérios mais que duvidosos e antecipadamente denunciada pela oposição e círculos de direitos humanos.

Para aqueles que em várias partes do mundo  - inclusive entre nós – tomam posições cegas e surdas na defesa das suas  simpatias ou interesses nos dois casos, seria bom lembrar que, seja quais forem os autores, fraude financeira ou eleitoral é crime.
 

One Comment

  1. O que me deixa estarrecida é que fraude eleitoral ou financeira é crime.
    Está dito e pisto e visto e sabido.
    Estamos agonizando e , realmente, à deriva.
    O Professor Jonuel traça, em breves e significativas linhas , que esse caos não acontece agora, foi gestado e crescendo…
    Como povo, sem saberes acadêmicos, jurídicos, mas porque povo, na luta, no dia a dia do trabalho, nas ruas, conversando, compartilhando ideias, antecipamos esse desfecho catastrófico.
    A Justiça é cega, surda e muda!

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