Cronistas

Os Tempos de Mudança

Faz agora um ano que João Lourenço se iniciou na chefia do país. Publicamente têm surgido opiniões, interrogações, frases sentenciosas e análises sobre o exercício do mandato do presidente da República, num leque que vai do pessimista “nada mudou” até ao optimista “mudou tudo”.

Começo por lembrar que Angola tinha chegado a uma situação económica, social e de direcção do país que requeria uma urgente mudança na postura do poder perante os cidadãos, na adopção de medidas de moralização do Estado e na tomada de novas políticas económicas e sociais.

Se alguém do círculo do poder compreendesse isto, estivesse disposto a encabeçar a tão urgente mudança e partir resolutamente contra os variados obstáculos, estaria em sintonia com o momento histórico e granjearia o apoio da grande maioria dos cidadãos às suas decisões.

Ora, João Lourenço começou o seu mandato com vigoroso discurso indicador de nova postura do poder e novas políticas. Os seus primeiros actos foram nesse sentido: desde a substituição de dirigentes a medidas importantes para a democratização do país, traduzidas nas modificações ocorridas na comunicação social estatal, no lançamento da discussão sobre o poder autárquico, nas novas leis sobre o investimento privado, no reforço e diversificação da ajuda internacional. Recentemente, ao tornar-se presidente do seu partido, fez um discurso contundente, anunciador de medidas drásticas que não poupam gente da área do poder.

Olhando para estes doze meses do mandato do novo presidente, também é evidente que se respira muito melhor politicamente, os debates generalizam-se e sobem de qualidade, os problemas nacionais vêm para a praça pública, sem os constrangimentos que antes existiam. No entanto, o cidadão comum ainda não sente qualquer mudança no plano económico e social. A pergunta que se põe é se era possível ter havido mudanças nesse domínio, neste período de doze meses, existindo uma situação económica e financeira tão difícil.

Numa análise que parta dum ponto de vista adoptado por alguns e a que chamo de «privilegiar o estático», dir-se-á que não houve mudanças de fundo nem haverá porque João Lourenço vem do mesmo partido que governa o país desde a independência. Se partirmos dum ponto de vista que denomino de «apreensão de dinâmicas» pode-se concluir que o importante é ele ter compreendido que era preciso mudar e avançar resolutamente para realizar esse objectivo (o facto de vir e ser dum partido cujas práticas conhece beme as utilizou, diga-se – torna-se em vantagem para a capacidade de mudar).

As mudanças já havidas são significativas, na minha opinião. E penso que não era possível ter ido mais depressa. Foram absolutamente necessárias mas estão longe de ser suficientes. Por um lado, o quotidiano dos cidadãos ainda não teve melhorias (pelo contrário, certas condições agravam-se em consequência da difícil situação económica e financeira que Angola atravessa). Por outro lado, é urgente: realizar a diversificação da economia (uma diversificação onde deve prevalecer o recurso a pequenas e médias empresas); acudir a sectores de vital importância como a Educação e a Saúde; tornar eficaz a Administração Pública; ampliar o combate pela moralização do Estado; aprofundar a democratização da vida nacional.

A partir de agora, é fundamental tomar medidas para eliminar em curto prazo as carências extremas das populações e implementar medidas estruturais. Veremos como o empenho do Estado e dos cidadãos começarão a resolver os problemas estruturais do país e os que pesam no quotidiano dos angolanos.

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